Memórias de uma escola impactante: uma História da Escola Cenecista de Barra de São Miguel - PB (Parte 2)


Por Luciana das Neves Costa¹

A partir dos levantamentos da pesquisa e das entrevistas realizadas com os sujeitos envolvidos na história da Escola Cenecista Thomaz de Aquino de Barra de São Miguel, cabe-nos analisar o discurso acerca da importância dessa instituição para a educação do município.

A transmissão do conhecimento por meio da narração oral e escrita, diz respeito ao método utilizado da pesquisa. Foram relatos de experiências vividas no dia a dia da rotina escolar pelo diretor da época José Raimundo; pelo vice-diretor Adailton; pelas professoras D. Socorro e Marluce e pelos alunos D. Têca Mulato e Miguel Belé. Tive uma imensa alegria e prazer em ouvi-los, pois são narradores e agentes do próprio relato e de suas memórias ligadas a Escola Cenecista. 
Os entrevistados contribuíram com fontes documentais e visuais sobre a instituição. Assim, eles reconstroem a história da escola em Barra de São Miguel e a cultura escolar por ela produzida, por meio do significado que atribuem a eventos constitutivos de suas trajetórias pessoais ligadas a escola. 



Imagem 1 : Placa Alusiva a turma concluinte de 1985 (Fonte: Arquivo Pessoal do Ex-diretor José Raimundo Ferreira).

Miguel Belé (ex- aluno) relata que no ano de 1983, foram construídas novas salas de aula para o funcionamento do ensino médio que viria a ocorrer em 1984. No mesmo local que funcionava a Escola Cenecista Thomaz de Aquino, hoje é a Escola Municipal João Pinto da Silva da qual ele é o atual diretor.
“Fui da primeira turma do 2° grau, concluí meus estudos em 1986. Apesar de funcionarem no mesmo prédio, o ensino ginasial da Escola Cenecista e o 2° grau eram separados por uma cerca de arame farpado que foi apelidada de Muro de Berlim.” (Miguel Belé, ex-aluno, em 03/janeiro/2015).
O currículo da escola era dotado de normas já estabelecidas pelo Ministério da Educação. Isso mostra que o período da pesquisa (1967-1990), demonstra as normas pedagógicas, a grade curricular como um campo de forças, seja nos aspectos sociais, culturais, políticos, econômicos das escolhas efetivadas pelos agentes que interviram no processo escolar. Lembramos que a escola foi fundada e estruturada no regime militar (1964-1985), onde a ordem vigente era autoritária.
A partir da Lei n°5692/71, ao lado da Educação Moral e Cívica (EMC) e da Organização Social e Política Brasileira (OSPB), os Estudos Sociais esvaziaram, diluíram e despolitizaram os conteúdos de História e Geografia e, novamente, foram valorizados conteúdos e abordagens de um caráter de um nacionalismo ufanista, destinados a justificar o projeto nacional do governo militar após 1964.


Imagem 2 : Desfile do 7 de Setembro em 1985. Alunos e a professora Socorro (Fonte: Arquivo Pessoal do Ex-diretor José Raimundo Ferreira).
José Raimundo (ex-diretor) relembra que toda semana, os alunos se reuniam no pátio da escola para cantarem o Hino Nacional. Todos os entrevistados lembram com muito saudosismo as comemorações do desfile do 7 de setembro. Segundo ele:
“Era uma festa. A cidade parava para ver seus filhos e parentes desfilarem. Era muito organizado. Incentivava meus alunos a participarem com a farda da escola. Eles marchavam com muito respeito e atenção”.
O diretor com a ajuda dos pais e da comunidade criou a Banda Marcial da escola. Com a ajuda de amigos e colaboradores, comprou os primeiros instrumentos de surdo. Depois, com muito empenho foram comprando outros. Miguel Belé que participou da banda contou: “Tocava corneta e era uma alegria participar da Banda Marcial.”


Imagem 3 : Desfile do 7 de Setembro em 1985. Alunos e a o ex-diretor José Raimundo (Fonte: Arquivo Pessoal do Ex-diretor José Raimundo Ferreira).
O corpo docente da escola era formado por pessoas indicadas pelos prefeitos e diretores da época. A maioria dos professores não tinha formação pedagógica ou acadêmica, então recorriam aos alunos que tinham terminado o científico (atual ensino médio) em outras cidades ou que estavam cursando algum curso universitário. O diretor José Raimundo que ficou no cargo de 1977 a 1990, é bacharel em Direito e sem formação pedagógica, assumiu o desafio de administrar a escola e lecionar as disciplinas de OSPB, Moral e Cívica e Inglês. Como ele afirmou: “Para ensinar naquela época, precisava de uma carteira autorizada pelo Ministério da Educação.”
No ano de 1990, a Escola Cenecista Thomaz de Aquino foi desativada, por questões políticas locais. De maneira saudosa, José Raimundo relembra que foi muito triste ver o fim da escola, onde se dedicou por treze anos e que marcou a vida profissional e estudantil da comunidade barrense. Mas, que deixou sua semente na educação como a primeira escola de ensino fundamental II do município. E seu legado é perpetuado no ensino até os dias de hoje.

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1 - COSTA, Luciana das Neves. Memórias de uma Escola Impactante: uma história da Escola Cenecista de Barra de São Miguel-PB. Faculdade do Norte do Paraná (FACNORTE). Sarandi, 2015. Dissertação (Mestrado em Ciências da Educação e Multidisciplinaridade) 
2 - Adequação para o site - João Paulo França, 07 de junho de 2016.