• Todas as memorias do(a)"Belé":
  • "Naquela mesa tá faltando ele"... obrigado Sr. Orlando!

    Nesta data, 22 de janeiro de 2018, acordamos com a triste notícia que silencia Barra de São Miguel: o falecimento do Sr. Orlando Silva, uma das pessoas mais carismáticas e respeitadas na cidade. Com seu violão no peito, dedilhou incontáveis canções nas serenatas locais...

    Imagem 1 - Sr. Orlando Silva
    Nascido em 03 de setembro de 1929, tendo portanto, 88 anos, o mesmo era filho do casal "Seu Nego" e "Dona Maria". Era irmão da Sra. Toinha Procópio. Também teve por irmãos a Sra. Joanita Silva (falecida) e Sr. Egídio (falecido).
    Em entrevista no ano de 2017 para estudantes do Ensino Médio que organizaram um Sarau poético e musical, realizado em 30 de novembro, o Sr. Orlando afirmou que aprendeu a tocar violão sozinho, começando a fazer serenata desde os 15 anos. O mesmo fez parte de uma geração de jovens locais que tinham na serenata uma das suas diversões e encontros sociais: "As mesmas começavam às 23:00 horas, quando as luzes das ruas estavam apagadas. Tinham muitos pedidos de serenatas e muitas vezes também eram realizadas nos sítios", afirmou o Sr. Orlando. 
    A seguir, vejamos uma das imagens do referido Sarau, onde além do Sr. Orlando ao violão, vemos os senhores Raimundo, Deca e Dim, além da Sra. Maria de Arcanja, companheiros inseparáveis dos momentos de descontração e festejos por meio de serenatas.

    Imagem 2 - Sarau na Escola João Pinto no dia 30 de novembro de 2017 - Fonte: Rede Social de Aurinha Canejo
    Casado com a Sra. Severina Costa dos Santos (Nina), o Sr. Orlando exerceu durante quase toda sua vida a função de sapateiro na cidade, sendo por isto também conhecido como "Orlando sapateiro".
    Em diálogo conosco, o Sr. Miguel Belé afirma que Orlando também trabalhou fora de Barra de São Miguel, na construção do Açude Epitácio Pessoa (o açude de Boqueirão, que hoje abastece Campina Grande). "Ainda ontem (dia 21 de janeiro), sentado no banco de Amauri conversando comigo e Deca, escutei de Orlando o mesmo contando que lembrava daquele coreto da praça feito ainda de palha de coco. Disse que quem construiu o atual foi o velho Ismael, que fazia as coisas bem feitas".  
    A seguir, mais um registro do Sr. Orlando em uma de suas incontáveis tocadas de violão na casa de amigos:

    Imagem 3 - (Sr. Orlando e amigos -1993?) Fonte: Rede Social de Aristotel Costa
    Em homenagem, transcrevemos esta bela composição "Naquela Mesa", de Nelson Gonçalves, um hino à saudade de um boêmio...

    "Naquela mesa ele sentava sempre
    E me dizia sempre o que é viver melhor
    Naquela mesa ele contava histórias
    Que hoje na memória eu guardo e sei de cor
    Naquela mesa ele juntava gente
    E contava contente o que fez de manhã
    E nos seus olhos era tanto brilho
    Que mais que seu filho
    Eu fiquei seu fã

    Eu não sabia que doía tanto
    Uma mesa num canto, uma casa e um jardim
    Se eu soubesse o quanto dói a vida
    Essa dor tão doída não doía assim
    Agora resta uma mesa na sala
    E hoje ninguém mais fala do seu bandolim

    Naquela mesa tá faltando ele
    E a saudade dele tá doendo em mim
    Naquela mesa tá faltando ele
    E a saudade dele tá doendo em mim"

    Nossa homenagem à memória do Sr. Orlando Silva e nossos sentimentos a todos os familiares e amigos deste cidadão tão querido de Barra de São Miguel.

    João Paulo França, 22 de janeiro de 2018.
     
    Fonte:

    Imagem disponível em Rede Social de Aristotel Costa.
    Imagem e informações do Sarau poético e musical organizado pela professora Aurinha Canejo na Escola João Pinto da Silva, com estudantes do Ensino Médio da Escola Melquíades Tejo. 
    Informações do Sr. Miguel Belé.
    Site Letras. Disponível em: https://www.letras.mus.br/nelson-goncalves/47663/. Acesso em 22 de janeiro de 2017.

    Vamos viajar nos anos 1970 e 1980? Vamos de "misto"!


    Nosso site volta nesta data às décadas de 1970 e 1980. Por meio de acervo e informações do Sr. Eduardo Belo Barbosa, popularmente conhecido como "Eduardo do misto", podemos observar um dos meios mais populares de deslocamento da população interiorana em várias décadas passadas. Provavelmente muitos de nossos jovens nunca ouviram falar do "misto" e de sua importância econômica e social em nossa região. Com alegria, vejamos a imagem do "misto" do Sr. Eduardo:

    Acervo do Sr. Eduardo Belo Barbosa (Eduardo do "misto")
    Esta fotografia foi realizada no Sítio Pindurão, entre as cidades de Santa Cruz do Capibaribe-PE e Barra de São Miguel-PB. Na mesma estariam moradores barrenses como Antônio Simião, Zeca Belé, Sr. Bento, Mariquinha de Amaro de Chica.
    O Sr. "Eduardo do misto" ainda reside no Sítio Jaques, divisa de Caraúbas com Barra de São Miguel. Foi um personagem que marcou época na região Cariri fazendo a rota com este veículo para a cidade de Santa Cruz do Capibaribe, via Barra de São Miguel, na segunda-feira. De Caraúbas o mesmo fazia a linha para Campina Grande na terça e voltava na quarta-feira. Também saía na sexta e voltava no sábado. O mesmo recorda que fez viagens entre os anos de 1971 e 1983, ano que fez sua despedida da linha.
    Entre as centenas de passageiros que transportou lembra diversos moradores da região, como os senhores Santiago, João do Jaque, Artur Arruda, Amaro de Chica, Zé Beco, Adaulto, Antonio Simião, dentre outros.
    Tratando um pouco mais do caminhão "misto", com muita sensibilidade, Bernardo Issler faz o seguinte relato:

    "Por "gênese" é um caminhão com dupla finalidade: transporta carga e passageiros. A cabine ou "boleia" é modificada, dando lugar a três ou quatro filas de bancos, cada uma recebendo cinco ou seis passageiros. Esta improvisação ocupa metade do comprimento do veículo. O restante da carroçaria recebe a carga. Sua importância é maior do que se supõe à primeira vista. Partindo de uma localidade que convenciona ser sede das atividades, faz a "linha" uma ou duas vezes por semana à capital do estado ou centro regional, distantes muitas vezes mais de quarenta léguas. Uma tabuleta de madeira, pintada a capricho, indica, do alto do pára-brisas, o destino: Misto Orós-Icó ou tantos outros: Jaguaribe-Ruças, Floriano-Oeiras-Picos, Jucás-Iguatu, Moçoró-Açu, etc. O motorista é figura de relevo, importante, popular e respeitado pelo seu grande valor "social". Por onde passa todos lhe conhecem, acenam, cumprimentam. Traz notícias, recados, cartas, bilhetes, volumes, etc.. . Basta pedir — seo João, me faz o favor de entregar lá no Croata, pra Maria do Socorro. . . — é uma carta de amor, escrita em letras trêmulas e disformes que o saudoso "cassaco" pede que entregue à sua namorada. Êle está trabalhando, já há tempo, na estrada que o DNOCS está abrindo".

    A crônica completa sobre "o misto" pode ser acessada aqui  .

    Tem mais alguma referência no nosso transporte? Será um prazer compartilhar por aqui.

    João Paulo França, 07 de novembro de 2017.



    Fonte:

    Imagens e informações do Sr. Eduardo Belo Barbosa
    ISSLER, Bernardo. O misto. Disponível em:  http://www.consciencia.org/o-misto-pau-de-arara-na-regiao-nordeste-do-brasil . Acesso em: 07 nov. 2017.