1964 - O Treze F.C. e a administração do dr. Sebastião Pedrosa, filho de Barra de São Miguel - PB.

"Sebastião Pedrosa, seu atual presidente, homem de grande visão, sentiu que o clube não poderia continuar vivendo do prestígio de sua equipe de futebol e de glórias do passado": esta é uma das referências ao médico barrense, dr. Sebastião Pedrosa, que radicou-se em Campina Grande e durante certo período da década de 1960 foi presidente do Treze Futebol Clube, um dos maiores do Estado da Paraíba. 
Nesta matéria do Diário de Pernambuco, de 22 de março de 1964, vejamos os planos deste "homem de grande visão" que à época lançava títulos patrimoniais do clube e apresentava para os torcedores alvinegros do "Galo da Borborema" os planos de construção de um "estádio de grande capacidade e dentro dos requisitos da arquitetura moderna", além da "construção da sede social, que terá de tudo para o deleite de seu corpo social: salão de jogos, salão de reunião, conferencias, auditório, "dancing", secretaria, tesouraria, diretoria; um estádio aquático, quadra de tênis e ginásium coberto, além de um "play-ground" para a criançada".

Vejamos uma imagem desta obra e, a seguir, a matéria completa:


A notícia completa:

"Treze Sonha Com O Sucesso Lançando Campanha Para Construir A Maior Praça De Esporte Da Paraíba.
O Treze, de Campina Grande, é uma das mais prestigiosas agremiações futebolísticas do nordeste brasileiro. Seus feitos são incalculáveis. Os campinenses, no entanto, desejam o clube numa amplitude maior, com maior patrimônio social e esportivo; e por essa razão, o famoso "Galo da Borborema" resolveu crescer. O plano é ousado, porém o arrojo da família alvi-negra da "Rainha da Borborema", característica do homem nordestino, transformará o clube numa potencia.

Sebastião Pedrosa, seu atual presidente, homem de grande visão, sentiu que o clube não poderia continuar vivendo do prestígio de sua equipe de futebol e de glórias do passado. Outras modalidades esportivas e o campo social também deveriam ser conquistados pelo alvi-negro. A princípio, a ideia era uma miragem: agora já começa a transformar-se numa realidade. O lançamento dos títulos patrimoniais permitirá a realização do plano.

HISTÓRIA

A vida do Treze é uma vida de glórias, de conquistas, de vitórias. Seus feitos são por demais conhecidos do público brasileiro. Sua liderança no mundo futebolístico paraibano é uma realidade. Os trezianos vibraram, vibram e vibrarão com as conquistas do famoso "galo". O clube acompanhou paulatinamente o progresso e o desenvolvimento de Campina Grande. Sua história é quase a história da cidade centenária, pois a data de sua fundação é quase a data em que começou a arder na cidade a chama do desenvolvimento. Fundado a 7 de setembro de 1925, o Treze jamais parou em sua marcha para a conquista de vitórias. Cada ano, para o alvi-negro é um ano de triunfos. Campeão paraibano em 1939 - 40 - 41 - 42 - 44 e 50, e campeão de Campina Grande de 1925 - 26 - 27 - 28 - 40 - 41 - 42 - 43 - 45 - 47 - 48 - 49 - 52 - 56 - 57 - 58 e 59, decidiu agora, em 1964, tomar do Campinense Clube, seu competidor, o laurel.  E para conseguir tal feito, seus dirigentes não estão medindo sacrifícios. O que interessa ao clube é a volta da liderança futebolística da Paraíba, custe o que custar.

PROJETO

Instalado no bairro de São José, na zona urbana da cidade, o Treze domina uma área superior ao terreno do Náutico, e quase igual a do Esporte. Vive atualmente voltado para o futebol, e mesmo assim tem um quadro social superior a 1.200 associados. A Campanha dos títulos patrimoniais permitirá ao clube melhorar sua praça de esportes, dando a cidade um estádio de grande capacidade e dentro dos requisitos da arquitetura moderna. Os títulos patrimoniais permitirão, ainda, a construção da sede social, que terá de tudo para o deleite de seu corpo social: salão de jogos, salas de reunião, conferencias, auditório, "dancing", secretaria, tesouraria, diretoria; um estádio aquático, quadra de tênis e ginasium coberto, além de um "play-ground" para a criançada.

OBRAS

Muito embora somente no próximo mês seja lançada oficialmente a campanha dos títulos patrimoniais, serão iniciadas, ainda este mês, a concentração permanente, ao lado do novo estádio; um alojamento para as delegações visitantes, dotado de dormitório e restaurante, e as torres para a nova iluminação. As obras estão orçadas em vários milhões de cruzeiros, e segundo o pensamento do sr. Sebastião Pedrosa dentro de dois anos o Treze estará com 70% de suas novas instalações completamente prontas.

FUTEBOL

Ao lado da preocupação de nova campanha, os dirigentes trezianos estão cuidando da equipe de futebol, pois está dentro dos planos a conquista do campeonato do centenário. Por isso, a organização de uma grande equipe de futebol está sendo preparada. Acreditam que investirão cerca de 25 a 30 milhões de cruzeiros, que ao final esperam ser reembolsados, não só com a conquista do título, mas também, com a renda de jogos amistosos, temporadas, excursões e a Taça Brasil. A chefia do departamento está entregue ao ex-futebolista Buarque Gusmão, ex-dirigente do Campinense, que antes de ter dirigido outra agremiação, foi do Treze, como jogador e diretor". 

Por fim, segue o recorte completo da notícia:


Filho de Joaquim Ulisses Pedrosa (Quincas Pedrosa) e Francisca Pedrosa, dr. Sebastião, nasceu no dia 29 de maio de 1927, na Fazenda Pedras Altas, zona rural barrense. O mesmo faleceu em 04 de janeiro de 1971, sendo seu corpo sepultado no cemitério São Miguel de Barra de São Miguel - PB. Na matéria "Dr. Sebastião Pedrosa: Fragmentos de sua trajetória no Diário da Borborema" (que pode ser acessada neste link)  o leitor poderá conhecer mais um pouco de sua história.

João Paulo França, 25 de junho de 2018

Fonte:

Diário de Pernambuco, nº 67, Ano 139, de 22 de março de 1964.

Portal de Memórias agora também está no YouTube e apresenta: 1987 - Frei Damião em Barra de São Miguel - PB.

Olá amigos e amigas internautas de toda região!

Com alegria nosso Portal de Memórias apresenta mais uma novidade: nosso Canal no YouTube! 

A partir da incorporação do colaborador Joab Falcão ao nosso portal passamos a utilizar os registros fotográficos de moradores locais para construímos vídeos, produzidos com muito carinho por nossa equipe, como este primeiro, de 2:24 minutos que apresenta um pouco da emoção da passagem de Frei Damião em Barra de São Miguel na década de 1980. Click no vídeo e confira:




Colabore sempre conosco, nos enviando fotografias, imagens e informações a respeito da história de Barra de São Miguel e região, bem como sugestões de matérias e vídeos como este da passagem de Frei Damião pelo município.

Continuemos construído esta história a partir das memórias do nosso povo!

Barra de São Miguel, 20 de junho de 2018.


Equipe do  Portal Memórias de Barra de São Miguel - PB. 

Novena de Santo Antônio do Sítio Pinhões: uma tradição religiosa de Barra de São Miguel - PB

O município de Barra de São Miguel possuí diversas tradições religiosas que de certo modo são únicas na região do cariri paraibano. Entre estes eventos, a Festa de Santo Antônio do sítio Pinhões é um dos que mais se destacam.
Distante aproximadamente 4 km da sede do município, o sítio Pinhões acolhe há mais de meio século os devotos de Santo Antônio que se dirigem todos os anos, no dia 12 de junho, para a comunidade. É um pouco desta tradição que passamos a relatar nesta matéria, afinal, você sabia que existia uma procissão dos Pinhões à Barra de São Miguel com a imagem de Santo Antônio? Que a novena era celebrada em residências, antes da construção do templo? Que a igreja dos Pinhões foi erguida entre os anos de 1962 e 1963? Que o sr. Antônio Miguel Assis, conhecido por Antônio de Simeão foi o incentivador da construção? Estas e outras informações nos foram legadas por moradores do sítio Pinhões que nos auxiliaram a conhecer um pouco do passado desta tradição barrense.
De início, vejamos uma imagem deste templo católico da zona rural de Barra de São Miguel:

Igreja de Santo Antônio do Sítio Pinhões em 2018 - Acervo Pessoal.
Esta capela foi construída no início da década de 1960, sendo que a primeira festa de Santo Antônio na igreja foi celebrada no ano de 1963. Todavia, a devoção ao santo se perde no tempo e remete aos familiares do Sr. Antônio de Simeão. Para compreendermos um pouco dessa história, entrevistamos alguns moradores da comunidade, que nos presentearam com diversos detalhes acerca desta devoção. É um pouco desta história, captada por meio da memória dos moradores do Sitio Pinhões que passamos a observar a seguir.

Sr. Inácio Brasiliano da Silva: Festa de Santo Antônio, uma tradição que se perde no tempo...

Nascido em 1955, casado com a sra. Maria de Assis, filha do sr. Antônio Miguel de Assis (Antônio Simeão), o  sr. Inácio Brasiliano da Silva, mais popularmente conhecido como Inácio do Bujão é o atual proprietário das terras onde foi erguida a igreja dos Pinhões no ano de 1963. O terreno do templo foi doado à Diocese no ano de 2002.
Conversamos com o sr. Inácio do Bujão, que reside na antiga casa onde a novena de Santo Antônio foi celebrada antes da construção da Igreja. O mesmo nos diz:  

“Essa festa de Santo Antônio, ela foi em vários cantos...foi aqui...(olhando para o nascente )eu tenho um barreiro aqui, tem um umbuzeiro ali, ali tinha uma casa velha, foi ali...depois, quer dizer, do que eu sei...depois lá naquele alto ali tem uma tapera, foi lá também, no outro lado deste pátio (apontando para o poente). Depois foi entregue para meu sogro, aí ele ficou aqui. Em 1963 já havia a festa, mas no mesmo lugar”.

Sr. José Miguel da Silva e sr. Inácio Brasiliano, conosco na entrevista.
O sr. Inácio nos informa que a devoção da família à Santo Antônio começou bem antes de seu sogro, o sr. Antônio Simeão. Na realidade começou com um parente chamado Miguel da Cruz, que provavelmente era o bisavô de seu sogro. Miguel da Cruz passou a imagem para Simeão, este a deixou para Miguel Simeão, que faleceu em 1976 e era o pai de Antônio Simeão, que passou a ser o "guardião" da imagem de aproximadamente 15 cm, que provavelmente pode ter vindo de Lisboa, nas palavras do sr. Inácio.

Sr. Antônio Miguel de Assis

Sobre a Festa de Santo Antônio, o sr. Inácio lembra que era um dia só, 12 de junho e não tinha "forró", ou seja, era celebrada a novena sem a parte social, como nos dias atuais. Todavia, no começo tinha uma banda de pífano, que vinha de Caruaru-PE. Apesar de não ter transporte, vinham muitas pessoas de outros lugares: "vinha de jumento, bicicleta, a pé. Hoje não, o pessoal só anda de carro, moto... daqui pra Barra é 4 km. Vim muito pra festa, naquela época de 1974 pra 1975".
Entre os devotos tradicionais, o sr. Inácio lembra dos “velhos”, em especial o Sr. Zé Beco, que sempre contribuiu para a festa. Além de moradores da comunidade mesmo, como o pessoal dos "Pintos". 
Por fim, o sr. Inácio lembra que só faz uns 20 anos que começou o "forró", "de 1995 pra cá", inclusive, seu Zé Beco era "muito contra". Depois é que a prefeitura começou a auxiliar na festa, principalmente depois de João Tarcísio. Em relação a esta organização o sr. Inácio nos diz que o sr. Antônio de Simeão sempre auxiliou na festa, mesmo depois que a igreja passou para a diocese e que apesar de desentendimentos a festa sempre foi realizada: "uma coisa que não admito é política em um evento como este", nos diz.

Sra. Maria José Leite (Eliete): "A Festa de Santo Antônio está para os Pinhões como a Festa de São Miguel para a cidade". 

Nascida em 03 de maio de 1943, no sitio Andrade, a sra. Maria José Leite é mais conhecida por Eliete. A mesma casou em 1963, com o sr. Damião Pinto (ex-presidente da Câmara de Vereadores de Barra de São Miguel), na casa de seu pai no sítio Andrade, indo morar no sitio Pinhões em 1964 nesta casa que o seu marido construiu entre 1958 ou 1959. O casal teve seis filhos.
Sobre seu primeiro contato com a Festa de Santo Antônio dos Pinhões, a sra. Eliete nos diz:

“Eu conheci ela (a festa) feita na casa de Antônio Simeão, de Inácio do Bujão (hoje). Era feita noutra casa, mas depois desmancharam a casa, esse tempo eu não conheci porque era lá de outra comunidade e o povo de primeiro para uma moça sair de casa era o maior sacrifício, tinha que ter um acompanhamento e tal e tal...Eu já conheci essa comunidade eu já noiva, namorada eu não vim nenhuma festa não. Aí eu conheci ela feita na casa de Inácio. Aí Antônio de Simeão com o pai dele que era velhinho, assim desses velhinhos "rancioso", quando queria uma coisa, conseguia...aí resolveu fazer a igreja com a comunidade ai cada um ajudava, uns davam as linhas, outros batiam os tijolos, então fizeram a igreja...”.

A sra. Eliete nos informa que a novena de Santo Antônio era feita por um livro que tinha “novena de todos os santos”, a “ladainha” e quem “tirava a novena” (presidia) era o sr. Miguel Simeão (pai de Antônio Simeão). Textualmente nos diz:

“No tempo dele, ele não entregava pra ninguém, ele se preparava como um padre, ele era bem inspirado pra tirar essa novena”, ainda conheci ele, "cansado", ele tinha um “puxado”, ainda mais nesse tempo frio da novena, ele dizia (voz baixa): “licença que eu estou muito cansado, mas com Deus eu chego lá”. 
Entre os moradores locais que presidiram a novena, a sra. Eliete lembra também da sra. Luzia e de Maristela, além da própria, que chegou a ficar com esta missão por dois ou três anos. Sobre a participação dos devotos, a sra. Elite no diz que:


"No tempo passado o povo era muito devoto, era muita gente que o pátio não cabia. Vinha muita gente da Barra, de Cacimba de Baixo, logo que Miguel Simeão enviuvou e casou de novo com uma mulher da Barrinha (município de Santa Cruz do Capibaribe)".

Tinha também uma arrematação. O responsável saia pelo sítio pedindo prendas e o povo doava galinha, melancia, girimum, bode, queijo de coalho... nos diz:

"Tinha uma zabumba que vinha do Travessão...aí depois através de um tio de Albaneide vinha um zabumbeiro de Riacho das Almas...era uma banda de pífano...tocava antes e depois da novena. Durante a novena acompanhavam a ladainha.. Não tinha baile, era só a festa religiosa, a “novena de Santo Antônio”.
 
Sobre a devoção anterior à construção da igreja, a sr. Eliete lembra que:

"Teve um tempo que tinha procissão da Barra pra cá...não tinha padre no sítio, aí teve um padre que proibiu a novena aqui no sítio, aí levaram o santo pra Barra, mas o "velho" ficou muito aperreado, sempre persistindo que pra aqui voltasse...aí começou a vir a procissão da Barra pra cá...no começo teve êxito, mas depois foi afracando até que trouxeram o santo pra cá..."

Passados muitos anos foi incorporado a festa religiosa o forró, segundo a sra. Elite, na época de Joãozinho, que deu uma avivada na festa..."ele trazia Lucia de Tonheira que fazia a novena, a celebração... quando João foi prefeito aí teve uns moídos e em um ano o baile fizeram aqui (próximo a sua casa)".

Nos chama a atenção a preparação da comunidade dos Pinhões para a Festa de Santo Antônio. Eis o relato da sra. Eliete:

"A festa de Santo Antônio para a comunidade dos Pinhões era como a “Festa de São Miguel para o povo da Barra”. Aí o povo fazia roupa nova. Eu era a costureira da comunidade e as pessoas viam aqui pra casa fazer roupas novas e cortar o cabelo das moças. Eu me virava pra poder dar conta do trabalho e da casa... Desde o mês de maio que as pessoas encomendavam suas roupas. Todos iam de roupa nova para a festa. Quando vim morar na comunidade eram 28 casas e as noites das novenas de maio era muito cheia a igreja. Eram pessoas da Pedra Branca, do Gabriel e dos Pinhões que celebravam juntas. Do Gabriel via o “povo de Adalto”, da Pedra Branca tinha a casa de Maria Frazão, Sebastião Frazão, Jota, João de Zuza, Dedé Isidoro, Nelson... cuidava da janta e recebia o pessoal da Pedra Branca, que já vinham cantando pelos caminhos".


Por fim, a sra. Eliete lembra que muitas pessoas tinham promessa para Santo Antônio, que é um santo que é "muito forte para coisas perdidas", inclusive a mesma também faz suas promessas para o padroeiro da comunidade.

Altar de Santo Antônio 2018.
Sra. Maristela Clemente Pinto: Os desafios da vida em Comunidade.

A sra. Maristela nasceu no dia 05 de janeiro de 1948, no sítio Andrade. Assim como sua irmã, Eliete, também casou com um morador do sítio Pinhões, o sr. Manoel Pinto da Silva, conhecido por Manezim, no dia 28 de maio de 1972. Ao todo geraram seis filhos.
Sobre a Festa de Santo Antônio, nos diz a sra. Maristela:

“Eu tenho notícia desta festa dos Pinhões quando Eliete se casou logo, antes eu vim de lá (do sitio Andrade) pra essa festa...choveu muito... nesse tempo não tinha transporte e mamãe (dizia): "nós não vamos não, que tem muita lama e não sei o que"...não mamãe nós vamos, depois quando voltar, a lama tem acabado, vamos, vamos ...eu com interesse de vir né, isso foi em 1963...eu vim pra qui, eu era solteira, aí viemos pra festa e Eliete ainda não morava aqui não, veio também, mas não morava aqui...nesse tempo eu tinha pai, tinha  mãe, tinha tudo, era tudo aquela beleza pra nós vir pra festa, todo mundo, aí nós vinha a cavalo, outros na garupa e assim vinha tudinho, a família era meio grande. Foi a primeira festa da igrejinha em 1963”.

Sobre esta data da primeira festa na igreja dos Pinhões, não há dúvidas por parte da sra. Maristela, pois lembra que: "Eliete veio grávida do primeiro filho em 1963 e ele nasceu em 06 de agosto de 1963, por isso não tenho dúvida".

Sobre a devoção a Santo Antônio, antes da igreja, a sra. Maristela nos informa que era uma novena na casa de Antônio Simeão, inclusive a mesma chegou a ir umas duas vezes. Nesta novena lembra que não tinha forró, a diversão é que depois tinha umas "rainhas", Luzia organizava. Aí fazia uma arrematação, depois tinha a coroação da rainha. “Quando arrematava dizia “tanto pro cordão vermelho”, "tanto pro cordão azul”. Fazia aquela arrematação até umas 11 horas, meia-noite.
A sra. Maristela lembra que "o povo mais antigo de Barra de São Miguel, assim, como Maria de Zé Pinto, Mira de Biino", e muitas pessoas participavam da festa. Questionamos acerca da  procissão da Barra para os Pinhões e a mesma sabe que houve, "mas não é de seu tempo. Era no tempo de seu Miguel Simeão, quando o mesmo tinha saúde". Ela sabe porque o povo dizia, a mesma  era criança no período. Continua a sra. Maristela: "Esta novena começou na casa da mãe do finado Miguel Simeão, Dona Aninha dos Pinhões como era conhecida. Quem contava muito isso era meu cunhado, Damião Pinto".
Sobre a organização da festa de Santo Antônio, a sra. Maristela nos diz que o "forró" deve ter uns 15 anos, mais ou menos. A mesma ficou como encarregada, por uns oito anos, mas não fazia o baile. A mesma colocava os noiteiros da festa e estes vinham para os Pinhões. Lembra ainda que organizava um lanche para acolher estes visitantes. Todavia, por conta de "moídos", deixou de fazer esta organização. Na época, quem lhe auxiliava eram seus filhos mais novos que viviam em casa e ajudavam a arrumar a igreja. Sobre este período a sra. Maristela toma como lição que "o trabalho em comunidade é difícil porque tem que combinar direitinho com todos".
A Igreja dos Pinhões funcionava também no mês de maio, no novenário de Nossa Senhora. Era no tempo de Dona Maria Frazão, conhecida por "Alia". Antes da sra. Maristela era ela que cuidava e zelava da igreja. A sra. Alia passou de 6 a 8 anos tomando conta da novena. "Ela chegava logo cedo, organizava umas florzinhas. Aí depois dela foi Luzia que tomou conta. Aí depois foi que eu tomei conta. Eu tava bem entrosada no mês de maio com outras meninas aqui da comunidade"
No período que a igreja dos Pinhões foi doada à diocese pelo sr. Antônio Simeão, a sra. Maristela lembra que foi com "Dom José Luiz" (à época Pe. Zé Luiz) que passou a ter muita reunião. "Ele explicou bem direitinho assim como era o espírito da igreja, aí ele passou eu a ser ministra da eucaristia. Eu pelejei e incentivei outras meninas mais novas pra também ser".
Apesar de ficar triste porque adoeceu e não pode participar mais da comunidade (há quase três anos ela luta contra uma doença), a sra. Maristela não deixa de estar presente, quando pode, nas celebrações, além de fazer suas orações na igreja dos Pinhões.
Por fim, a sra. Maristela lembra que a novena de Santo Antônio sempre foi realizada, nunca deixando de ser celebrada, mesmo com doença ou morte de pessoa da comunidade: O pessoal tem uma grande devoção, inclusive, uma senhora fez um Santo Antônio de tecido pra pagar uma promessa e doou.

Igreja de Santo Antônio do Sítio Pinhões em 2018 - Acervo Pessoal.
Sr. Manoel Pinto da Silva: "Eu fui buscar a madeira da igreja no Jaques, em uma junta de carro-de-boi".

Finalizando nossa investigação acerca da devoção à Santo Antônio da Comunidade dos Pinhões, temos importantes informações reveladas pelo sr. Manoel Pinto da Silva, conhecido por Manezim, esposo da sra. Maristela. De início, o mesmo nos faz uma interessante revelação:

“Eu mesmo, aquela igreja, eu fui buscar a madeira dela, não tinha nem carro nesse tempo, fui buscar no Jaques, em uma junta de boi, eu fui buscar, eu não conhecia nem Maristela neste tempo, eu "coisa" novo de 15 anos por ali (...) Eu fui buscar mais o finado Júlio daqui dos Pinhões, sogro de Biu da lenha, fomos buscar a madeira no Jaques e nós não levamos comer, quando chegou em João Pinto do Mulungu, nós passamos lá umas 11 horas do dia e ele foi quem deu umas melancia pra gente chupar, aí nós fomos buscar as madeiras de imburana pra fazer essas portas aí, nesse tempo não tinha serraria, serrava em cima de duas furquias, com o serrote pra fazer a tábua (...). Nós saímos tão tarde com os bois que no caminho eles cansaram".
 
O sr. Manezim é natural do sitio Pinhões e por isto o mesmo tem detalhes interessantes da construção da igreja, bem como da devoção da comunidade à Santo Antônio. Segundo o mesmo:

"Os tijolos foram batidos ali perto da igreja...foi Antônio Simeão quem levantou aquela igreja... agora Santo Antônio foi na época... tinha uma casa do finado Miguel Simeão...levava de procissão pra Barra que a Festa de Santo Antônio era na Barra... Era muita gente que vinha pra festa de Santo Antônio, mas vinha pra levar ele pra Barra, quando passava a Festa de Santo Antônio era outra procissão pra vir trazer, como a de Menino de Deus”.
Ainda sobre este tempo, o sr. Manezim lembra:
“Na casinha pequena, mamãe levava a gente para as novenas do mês de maio na casa pequena de Miguel Simeão, uma casinha pequena, era ele rezando o terço dentro de casa e o povo tudo no terreiro (...). Pra Barra fui muitas vezes, quando era novo, saindo da casa do "velho", era na época de Cônego Bandeira. Ia soltando muito fogo pelo caminho".

O mesmo recorda que tinha uma banda de pífano que vinha das "bandas de Caruaru e quem enfrentava (organizava) era Alia". A iluminação da festa era uma fogueira no terreiro e o candeeiro na casa...lembra que até brincavam de "pular" a fogueira.
Para a novena vinham pessoas de todo lugar, de Caruaru, do Distrito do Pará e da Barra.
Sobre os desafios da igreja, lembra da queda do telhado, em uma chuva que fez a linha cair. Como as pessoas da comunidade eram "pobre, não tinha condições", pessoas de outros lugares auxiliaram, a exemplo de "Julio do Taquari", que deu a madeira pra reformar o telhado da igreja.
O sr. Manezim e sua sua esposa Maristela lembram que Joãozinho (ex-prefeito) ajudou muito na festa, inclusive a estátua da frente da igreja quem doou foi o sr. Hélio, de Vitória de Santo Antão, por intermédio dele, antes mesmo de ser prefeito da Barra.

Estátua de Santo Antônio em frente à Igreja dos Pinhões. Arquivo Pessoal
Com alegria, nesta matéria procuramos apresentar um pouco da memória coletiva dos moradores do Sitio Pinhões de Barra de São Miguel - PB e suas percepções acerca da devoção à Santo Antônio, desde as novenas iniciais celebradas nas casas da comunidade, passando pela construção da igreja, até um pouco da organização dos festejos. Com certeza, muito ainda há por conhecermos acerca desta tradição religiosa barrense, mas por hora reflitamos acerca dos caminhos aqui apontados.
 
João Paulo França, 13 de junho de 2018.

Atualização em 14 de junho de 2018 - Em nossa rede social, o amigo colaborador Miguel Belé nos acrescenta as seguintes informações sobre a Festa de Santo Antônio:

"Eu tenho grandes recordações dessa festa principalmente da arrematação que tinha como leiloeiro oficial o Sr Amaro do Ó que com a sua irreverência era uma atração a parte, do Sr Pedro do Gabriel que era o responsável pela contabilidade da arrematação que se estendia por quase toda a noite, dada a grande quantidade de prendas ofertadas a Santo Antônio.
Lembrança do encontro dos filhos ausentes (eram muitos) que religiosamente uma vez por ano se encontravam nessa festa em uma grande confraternização.
Recordo da proibição aos namorados e encalhados de virar Santo Antônio de ponta cabeça para casar ou arranjar casamento, que por sinal muitos namoros e casamentos tiveram início naquela comunidade com as bênçãos do santo casamenteiro."

Fonte:

Entrevista com os Srs. Inácio Brasiliano da Silva e José Miguel da Silva, em 09 de junho de 2018.
Entrevista com a Sra. Maria José Leite (Eliete), em 09 de junho de 2018.
Entrevista com Sra. Maristela Clemente Pinto, em 09 de junho de 2018.
Entrevista com o Sr. Manoel Pinto da Silva (Manezim), em 09 de junho de 2018.
Imagens de arquivo pessoal e rede social de Bartô Pinto e Manoel Edvam.