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  • Sr. Antônio Congo: um oleiro de histórias - "Série o que vivi, ouvi e senti na história"



    Nascido nas Pedras Altas, no dia 28 de agosto de 1934, na Fazenda de “Quinca Pedrosa” (Joaquim Pedrosa) onde habitou até os 16 anos de idade, Antônio Francisco de Almeida, mais conhecido por Antônio Congo é hoje o nosso personagem da "Série o que vivi, ouvi e senti na História".
    Bem-humorado, com ótima lembrança dos fatos vividos e atencioso para conosco, passamos a seguir alguns dos temas que abordamos em nossa conversa com o Sr. Antônio Congo em sua residência.

    Imagem 1 - Sr. Antônio Congo, em 2016
    O trabalho em Curtumes...
    Saindo das Pedras Altas, o Sr. Antônio Congo foi trabalhar no Curtume Santa Adélia, do Sr. Ismael Mahon, que ficava em Bodocongó, Campina Grande (PB) onde trabalhou de 1950 até 1958. Deixando este Curtume foi trabalhar em outra firma, esta, do Sr. Manoel Francisco da Motta, mais conhecido como o “Curtume Motta”, que tinha a matriz também no Bairro de Bodocongó.
    O Curtume Motta, antes de ter a sede em Barra de São Miguel, se instalou no Sítio Boi Bravo, por volta de 1958 a 1960. Seu Antônio era o “mestre de trabalho”, o “envernizador”, que preparava as tintas que vinham de Campina Grande, em depósitos de 200 litros. A fazenda “Boi Bravo”, pertencia ao Sr. Ismael Mahon e este tinha os galpões que funcionava o Curtume. Ao solicitar este espaço, os Motas se viram obrigados a trazer o curtume para a cidade.
    Assim, Manoel Francisco da Motta além do curtume de Campina Grande, também tinha um Curtume em Barra de São Miguel. Aqui, em 1960, era uma “envernizaria”, onde o Couro, já “aparelhado” era trazido de Campina Grande e o Sr. Antônio, que era o “cabeça”, o “mestre da obra”, administrava o empreendimento. O couro era “tinturado” e “envernizado”. Trabalhavam mais de 20 homens sobre a orientação do Sr. Antônio Congo.
    Na zona urbana, o Curtume era localizado na hoje conhecida rua São Miguel em um prédio onde já tinha sido antes uma “fábrica de caroá”. O prédio era do Sr. João Pinto da Silva, que arrendou para “pessoas de fora” instalar esta fábrica. A população de Barra vendia o agave para a fabricação das fibras do Caroá. Isto teria ocorrido, segundo o Sr. Antônio, nos anos de 1930 a 1934, pois é uma história que só ouviu falar e lembra que Amaro Congo, seu irmão, chegou a vender caroá para esta fábrica.

    Imagem 2 - Prédio onde funcionou o Curtume e a Olaria
    O trabalho na Olaria
    No ano de 1962 o Curtume fechou e o Sr. Antônio ficou desempregado. Assim, o mesmo começou a trabalhar como servente de batedor de telha, onde trabalhou por 25 anos até se aposentar. A "Olaria" funcionou até aproximadamente o ano de 1987.
    As telhas do Sr. Antônio não eram só vendidas dentro de Barra de São Miguel. Também eram comercializadas para: Riacho Fundo, São Domingos, Santa Cruz do Capibaribe, Taquaritinga do Norte, Campina Grande...
    Imagem 3 - Telhado de casa em Barra de São Miguel
    Lembra que se especializou apenas na confecção de telhas, daí o curtume, passou a ser conhecido como a “Olaria”. Nesta época, quem “batia tijolo” era “Manoel Grosso”, “Cessa de Ramiro” e outros.
    O material das telhas do Sr. Antônio vinha da fazenda de Otávio Cabral, onde hoje pertence a Djalma, era de lá que vinha o barro para as telhas. A água vinha de atrás das ruas, em especial na “cacimba de João Duardo”, a água era “em cima da terra”. Lembra que diminuiu a água com a chegada da algaroba à Barra, trazida por Ismael Mahon (no terreno dele, no Boi Bravo), na rua, quem trouxe foi Otávio Cabral, há mais ou menos 50 ou 60 anos.

    O casamento e a moradia do Sr. Antônio Congo
    O Sr. Antônio Congo casou-se no ano de 1958 com Tereza Pereira da Silva, natural de Barra de São Miguel, filha de João Benízio, que morava atrás da serra. Com a mesma construiu uma família de 05 filhos. Depois de casados foram morar na Rua São Miguel. Com o passar do tempo o Sr. Antônio construiu sua casa na “Rua Nova”, que naquele tempo só tinha três casas, que eram de: Manoel Grosso, Manoel Benjamin e a própria do Sr. Antônio Congo. O restante da região era uma grande "mata de favela", "palmatória". Lembra que bateu tijolo na “grota” perto da casa de “Zé pequeno” (próximo ao Posto de Gasolina). Também batia tijolo na vazante por trás da casa de Vavá de Zé Pinto.

    Imagem 4 - Sra. Tereza e o Sr. Antônio
    A Igreja e o Cemitério antigo de Barra de São Miguel  
    Segundo o Sr. Antônio Congo, a igreja de Barra de São Miguel sempre foi do tamanho que está agora, a diferença é só a remodelagem que foi feita ao longo do tempo e também por dentro, onde derrubaram ela e reformaram. O principal responsável da reforma foi o Dr. Hélio.
    Ao lado da igreja de Barra de São Miguel, existia um cemitério que viria a ser derrubado pelo Sr. Cacildo Guedes. Quando foram cavar as colunas da igreja encontraram “ossos velhos” e “botão de roupas”. Por sua vez já existia outro cemitério onde as pessoas já estavam sendo enterradas lá.
    Lembra que a parede da frente do cemitério era muito alta e estava inclinada, "uma empena só no meio da rua", assim, seu Cacildo mandou derrubar.

    O “Casarão” da Prefeitura
    O casarão da atual prefeitura de Barra de São Miguel foi construído pelo Sr. Ismael para ser sua casa de morada. Sr. Antônio lembra que “trabalhou no esqueleto das colunas” e ajudou na construção, pois as ferragens eram preparadas no prédio do Curtume, que o mesmo administrava.
    O casarão foi a primeira construção de primeiro andar dentro de Barra de São Miguel. Os engenheiros e parte dos pedreiros eram de Campina Grande. Este prédio foi construído por volta do ano de 1956 para 1957.

    O Açude do Bichinho
    A construção desse açude também faz parte da memória do Sr. Antônio. Ele lembra da "cavação" do alicerce da parede do Açude. Usava-se máquinas e caçambas para a construção do Açude. Apesar de não estar presente, lembra do dia que o Açude Riacho do Bichinho foi inaugurado.

    Festas Típicas de Barra de São Miguel
    As festas típicas de Barra de São Miguel, segundo o Sr. Antônio, eram essas: Festa de São Miguel, Festa de São Sebastião, Festa de Nossa Senhora da Conceição, Santa Luzia e a Festa de Santo Antônio, que era em Barra e também no Sitio Pinhões. O mês de maio por sua vez não se tinha festas, nem missa, só a novena que era tradição.           

    O Cruzeiro de Barra de São Miguel.  
    Segundo o Sr. Antônio Congo, o Cruzeiro de Barra de São Miguel se localizava na frente da Igreja e foi tirado e levado para a serra no ano de 1944 (Dúvida).
    A primeira vez que Frei Damião veio para Barra de São Miguel foi quando fizeram a procissão com a Cruz para colocar no cruzeiro da serra. Lembra que participou desta procissão. Também recorda que foi derrubado um coreto de palha de coco, que foi construído pelos pedrosas e ficava no meio da praça, mais ou menos onde hoje é o coreto central.
    Nesta vinda de Frei Damião foi uma alegria grande, até com banda de música de outros lugares e foi uma bela Festa na cidade.

    Feira de Barra de São Miguel
    O Sr. Antônio Congo avalia que hoje contamos com mercados e mercearias mais nem sempre foi assim. Antigamente se comprava alimentos na “feira livre” em Barra de São Miguel, com “caixotes de madeiras” juntamente com “bancos” e “cadeiras”, que eram utilizados ao invés de balcões.
    Os vendedores eram da Barra e também de fora da região. As feiras eram realizadas na quarta-feira e depois mudaram para o dia de Domingo. As pessoas achariam melhor no sábado, porém Sr. Ismael, "para não perder nenhum dia de trabalho", achou melhor no domingo.

    Sr. Ismael Mahon
    Para o Sr. Antônio Congo, Ismael Mahon era uma figura muito “forte” dentro de Barra de São Miguel, de tal forma que o próprio se esforçou para fazer com que a Barra se tornasse uma cidade. Ele tinha uma questão com o Sr. Ernesto e por isso trabalhou para passar a Barra à cidade.
    O governador Pedro Gondim veio para a Barra de São Miguel e seu Ismael se candidatou para a Política. Na primeira eleição ele perdeu para o Sr. Aurélio e na segunda ele ganhou.
    Lembra que serviu à mesa de Pedro Gondim na fazenda, quando este veio aqui para a Barra trazido pelo Sr. Ismael.

    Carnaval de Barra de São Miguel
    O carnaval era realizado com muita animação e o Sr. Antônio Congo também se fazia presente. Lembra que um dos foliões se chamava “Caboclo Justino” que animava as festas do carnaval de Barra de São Miguel. Lembra também de “Zezé de Joca”.

    Grupo do Estado e o acesso à educação
    O grupo do Estado começou no ano de 1948 a 1950. O Sr. Antônio não teve o prazer de ir pra uma escola, pois seu pai, o Sr. Francisco Congo de Almeida, era vaqueiro de uma fazenda e suas condições financeiras não ajudava muito para que ele mandasse os filhos para à escola. Assim, dos 09 filhos da casa, 04 deles estudaram e os outros 05 ficaram sem estudar. Sr. Antônio por sua vez aprendeu a escrever através de jornais que ele pegava pela rua.

    O primeiro carro de Barra de São Miguel
    O Sr. Antônio Congo nos ensina que para ir à cidade de Santa Cruz naquela época era através de cavalos ou até mesmo a pé. O primeiro carro a se chegar na Barra foi o Caminhão do Sr. Zé Pedrosa. Lembra que naquela época o peso do carro era mínimo, podia com mais ou menos de 1.000 até 2.000 quilos. O caminhão possuía 4 rodas apenas, duas na frente e duas atrás. Esta história aconteceu quando ele tinha por volta de 4 anos de idade, mas lembra ainda.

    Imagem 5 - Nosso registro ao lado do Sr. Antônio Congo
    Vida na Fazenda e o comércio de algodão.
    A vida do Sr. Antônio na fazenda era: colher algodão, plantar milho e limpar mato. Nesse tempo se tinha muito algodão que era produzido nas fazendas. Este algodão vinha pra Barra e daqui mandava para a SAMBRA em Campina Grande.
    Em Barra de São Miguel quem comprava o algodão era o Sr. João Pinto, que comprava ainda na “folha”. Lembra que as roupas da festa de São Miguel eram adquiridas antes, ele pagava com o roçado ainda plantado.
    Na fazenda também eles criavam animais

    Seu pai e seus Irmãos
    Os pais do Sr. Antônio Congo eram: o Sr. Francisco Congo de Almeida, natural de Pernambuco, do Minguaiu, e a Sra. Maria Filismina da Conceição.
    O Sr. Antônio Congo lembra que seu pai nunca saiu da fazenda, e viveu lá até morrer. Ajudou a criar Zé Pedrosa, Pedrosinha. Nesta época, Quinca Pedrosa ainda era solteiro. Seus irmãos eram: Amaro, Severina, Maria, José, Neves, Filomena, Penha e Sebastião.

    Muitas outras histórias do Sr. Antônio Congo ainda estão por ser contadas. Por hora, deixamos o nosso agradecimento a sua atenção e colaboração com o conhecimento do passado de Barra de São Miguel, por meio de sua trajetória de vida.

    Entrevista concedida no dia 21 de maio de 2016, transcrita, em parte, por Rodrigo Vasconcelos em 2017.

    João Paulo França, 15 de abril de 2017.

    Fonte:
    Entrevista e acervo do Sr. Antônio Francisco de Almeida (Antônio Congo)

    Viva São João! Puxe o Fole Sr. Manoel Benjamim! (Série o que vivi, ouvi e senti na História)

    Neste dia de São João nosso site trás na Série "o que vivi, ouvi e senti na História", a memória de um dos personagens culturais mais significativos da cidade de Barra de São Miguel - PB: o Sr. Manoel Benjamim dos Santos, ou simplesmente, Manoel Benjamim dos 8 baixos!
    Vejamos uma imagem deste ícone de nossa cultura:

    Imagem 1 - Sr. Manoel Benjamim com seu fole de 8 baixos
    Nascido em 04 de agosto de 1919 e falecido em 03 de abril de 1996, neste ano completamos 20 anos sem a alegria contagiante dos 8 baixos do Sr. Manoel Benjamim nos diversos festejos de Barra de São Miguel. 

    Segundo a nossa entrevistada, a Sra. Maria do Socorro Santos Silva (Socorro Benjamim), filha do Sr. Manoel, o mesmo foi um dos filhos do casal Sr. Benjamim e Sra. Maria Benjamim, tendo por irmãos: José Benjamim (Que nomeia a quadra central de esportes), Inácia, Severina, Miguel, Soledade, Clotilde e Mariquinha.
    Esta imagem 1 foi feita em Barra de São Miguel e o Sr. Manoel Benjamim teria 28 anos de idade. O mesmo foi casado com a Sra. Maria Nilde Ferreira (1933 - 2009) e desta união teve nove filhos, dos quais criaram-se cinco, que são: Socorro, Dolores, Lourdinha, Zefinha e Gabriel. 

    A seguir, passamos a palavra para a Sra. Socorro Benjamim, nascida em 1959, para a mesma nos falar um pouco mais das contribuições do nosso personagem histórico.

    Como o Sr. Manoel Benjamim começou a tocar?
    Bem, eu nem nascida era. Ele começou tocar com 8 anos de idade. Era tão pequenininho que colocavam ele em cima de um tamborete para poder tocar. Contam, que quando foi um dia ele tava em uma festa e foi almoçar. E de tão pequeno que era, era comendo e colocando os ossos no bolso, com o uniforme branco. Quando terminou o almoço e voltou a tocar, era aquele "melador" de graxa, por que ele dizia que ia guardar os ossos no bolso para chupar depois, de tão pequeno que era.

    Que instrumento ele tocava? Como aprendeu?
    Ele tocava fole de 8 baixos. Acho que ele aprendeu com o pai. Meu avô Benjamim tocava e ai ele foi vendo e aprendendo.

    Onde ele morou?
    Atrás da Serra, perto de Nenzinha. Acho que quando ele casou é que veio morar aqui na rua. Eu mesmo nasci em uma casa na Rua São Miguel, em uma casa que era de Otacílio, ali perto de Clemilton hoje. Dali a gente veio pra cá, pra rua nova, minha infância foi nessa rua.

    Ele tinha outra profissão, além de tocador?
    Sim, ele era pedreiro. Ele era muito inteligente. Boa parte destas casas foi ele que fez. Também fazia coisa de madeira. Tenho uma cristaleira que foi ele que fez. Também fazia os "milagres" para o Bom Jesus. As pessoas pedia pra ele fazer, tipo assim, um pé, um braço para as pessoas colocar debaixo do santo. Ele fazia de madeira, de cera para o povo pagar as promessas... Uma vez ele colocou até uma orelha que estava faltando em um santo da Igreja.

    Ele fazia as festas, ou era o povo que chamava para tocar?
    Era o povo que chamava...olhe, carnaval, São João, fim de ano, forró em sítio, tudo, tudo era ele que tocava. Fazia também uns forrós aqui em casa, onde ele gostava de ficar tocando, aqui na rua mesmo.

    Quem acompanhava ele?
    Manoel de Tetê. Miguel de Maria Joana, o finado "Parafuso" tocava na zabumba, Inácio de Terto ajudava no fole também. Também Genilsom conhecido por "boia apulso". Biu "Otário" tocava também. E eu era quem cantava. No início era Zefinha minha irmã, depois que ela casou eu passei a cantar e só parei quando ele morreu. Tempo de São João assim era muito bom.

    Como era que vocês se preparavam?
    Eu tinha um rádio de pilha. Escutava as músicas e escrevia em um caderno e ensinava a ele. Eu escutava no "rádio de móvel", com 4 botãozinho, dois de um lado e dois do outro e dizia, venha cá papai pra nós treinar e aí cantava pra ele. Mas era só uma vez e ele já pegava a música. Tudo nós tocava, hino nacional, raça negra, música antiga, Luiz Gonzaga, hino de São Miguel, mastruz com leite...tudo ele tocava.

    Onde vocês tocavam?
    Ave-Maria, em todo canto nós tocava. Tocou muito na Inveja, na casa de Zé Paca, na casa de Zé Lino, de Luís Augusto. Era forró do tempo do candeeiro. Nem microfone tinha, eu no outro dia ficava só "o pito" de rouca, por causa da poeira... ele tocou no Andrade, no Bichinho, no Pará, no Mineiro, nas Pedras Altas, Cachoeira dos Borges, Inveja, acho que não teve um desses proprietários de terras que ele não tivesse tocado... em Lagoa Seca, Lula Cabral levou a gente...em Recife, que Raimundo de Zé Lino levou pra tocar lá em San Martim. Tocava muito aqui na rua também, tocou no mercado, as vezes em quadrilhas no Clube do Bangu, também ali em Manoel Estambinho...tocava na casa de Zé Costa, nos bares, Abraão e outros chamavam. E também aqui em casa, aqui era o canto certo dele fazer as alegrias dele. Antônio de Lino tirava uma cotazinha, mas era muito pouco. O povo vinha pra cá. Eu lembro que ele gostava de romper ano em casa. Também tocou, eu me lembro, 22 comícios de Pedro Pinto ali de lado de Zé Pinto, na Rua Thomaz de Aquino.

    Imagem 2 - Sra. Nilde e o Sr. Manoel Benjamim
    E Dona Nilde, a esposa, como participava de tudo isso?
    Mamãe só acompanhava ele. Teve um caso engraçado em um sítio, ali onde era de Agnelo Cabujé. Ela era noiva dele e o dono da festa disse que era pra ela não dar corte em ninguém na festa, mas papai não queria que ela dançasse, aí ela teve a ideia de colocar "leite de aveloz" nos olhos para não poder dançar (risos). Neste dia, nem festa teve. Depois, aqui na rua ele gostava muito quando ela ia. Quando ela chegava na festa, ele tocava aquela música que diz: "Quando a saudade invade o coração da gente e pega a veia onde corria um grande amor"... eu num posso ouvir isso que me lembro, ela ficava muito feliz e ele sempre tocava esta música quando ela chegava na festa. Eles eram muito unidos

    E a veia artística passou pra mais alguém? 
    Só eu que cantava com ele e Gabriel, o filho que aprendeu, só não se interessou em tocar muito. 

    Ele tocou nos clubes da cidade?
    Sim, no Clube do Bangu, no Clube Diversional Cariri, lá eu lembro que teve um concurso de sanfoneiro e ele tirou em primeiro lugar. Eu lembro como se fosse hoje, por causa da alegria que tive. Papai morreu tocando, até o último ano de vida ele tocou, só parou quando teve um problema aqui na rua, aí foi a última vez que ele tocou aqui e no outro ano morreu.

    Imagem 3 - Sra. Socorro conosco nesta entrevista no dia 24 de junho de 2016
    Alguma música especial não podia faltar?
    Asa Branca de Luiz Gonzaga não podia faltar, ele gostava muito.






    Nosso agradecimento a Sra. Socorro Benjamim, e fica aqui o nosso registro da passagem deste artista popular de Barra de São Miguel - PB. Tem imagens ou áudios? Será um prazer compartilhar neste espaço.

    Barra de São Miguel, 24 de junho de 2016



    Fonte:

    Acervo e entrevista com a Sra. Maria do Socorro Santos Silva (Socorro Benjamim), em 24 de junho de 2016.
    Cemitério São Miguel de Barra de São Miguel - PB

    Série o que vivi, ouvi e senti na História: entrevista com a Sra. "Mira de Biino".

    Estamos iniciando hoje este espaço onde pretendemos apresentar entrevistas com os moradores de Barra de São Miguel acerca de suas memórias sobre a cidade. Por isto, intitulamos esta coluna como a "Série o que vivi, ouvi e senti na História". Neste primeiro encontro, apresentamos um trecho, não literal, da entrevista de 59:00 minutos que gravamos no dia 10 de maio de 2016, com a Sra. Ermira Maria de Fátima Pinto, conhecida como "Mira de Biino", nascida em 08 de outubro de 1953 e amante da história local, além de possuidora de belo acervo de imagens e material de Barra de São Miguel.

    A vida da Sra. Joseja Gonçalves Pedrosa (conhecida Zefinha de Biino, mãe de Mira) é o mote principal de nossa conversa, passando pela influência da Sra. Zefinha de Biino na fundação do "Aití" ou "Haití" Clube, nas festas e igreja local, bem como o apoio a Banda de Música de Barra de São Miguel, além de um pouco da história do Sr. "Zé do Bombo" (Avô da Sra. Mira). Iniciemos:

    Sra. Mira, nos fale um pouco sobre a participação de sua mãe, Zefinha de Biino na reativação da banda a partir de 1964.

    Ela tinha adoração por esta banda, ela se empenhou para esta banda. Ela dizia: "eu não quero que a banda morra". Ela tinha uma frase muito bonita: "eu daria minha vida mil vezes para essa banda não se acabar". Quando a banda estava em aperto ela saia no mato mais Paulo meu irmão e voltava com um "garajal" de galinhas nas costas, ovo, bode...ela vendia e entregava o dinheiro ao mestre para comprar coisas como bocal, palheta, aqueles cremes, fardamento.... toda vez que a banda estava em apuros ela caia em campo pra não deixar "cair".

    Sra. Zefinha de Biino (1913-1997)
    Alguém na família era músico?
    Sim, Paulo, Luiz, Fernando, Raimundo, todos os filhos homem.

    Ela chegou a juntar outras pessoas pra dar força a ela?
    Sim, chegou a ter uma associação com padrinho Otacílio, Zezé de Joca, Tetinha, e outras pessoas de condição formaram uma associação, mas depois foi esfriando e parou. Mas ela continuou ajudando. As vezes Braz (o mestre) falava que tava difícil sair na festa de São Miguel, ela ia e fazia rifa e arrumava uma forma qualquer e ajudava.

    Que outras festas, além da de São Miguel havia tocadas?
    Procissão do menino Deus, Festa de São Miguel, mês de maio, retretas... lembro também a Festa de São Sebastião, dia 20 de janeiro...já assisti muita procissão tocada pela banda. Lembro também da festa de todos os santos, que era Chiquinha de João Justino que fazia dia 01 de novembro.

    Voltando para a banda, tem lembrança de que locais ela tocou?
    Cabaceiras, Campina, Santa Cruz, Riacho Fundo... se deslocava muitas vezes em cima de um caminhão mesmo. Lembro de um Fó laranja e branco de Chico de Nô que a banda viajava.

    Sua mãe contribuiu até que época da vida com a banda?
    Até depois que Paulo meu irmão foi para Caruaru. Teve umas coisas e ela esfriou com a banda, mas mesmo assim, enquanto pode ela contribuiu com a banda. Ela era tão apaixonada por banda que todos os anos ela trazia a banda do 4º Batalhão de Caruaru para a Festa de São Miguel. Ela acolhia os músicos em sua casa.

    Banda do 4º Batalhão de Caruaru que vinha tocar em Barra de São Miguel. O Primeiro a frente é o Sr. Maurício Silva de Araújo, e o 3º a frente é o Sr. Paulo, filho da Sra. Zefinha de Biino.

    A gente agora vai falar sobre um time de futebol que sua mãe fundou. O que você tem a falar sobre isto?
    Ela contava que tinha fundado um time de futebol com muito sacrifício. Comprou um rádio pra fazer uma rifa e pra isto ter condição de comprar o padrão, a bola pra eles jogarem. E organizou este time neste mesmo campinho atrás do cemitério. Muita gente jogava: meu pai era o "quipa" (goleiro) do time. Ela fez um hino pra o time. Eu acho, se não me falha a memória que o nome do time era Haiti Clube ( ou Aití?). Ela que colocou este nome.

    Este  time teve quanto tempo de duração?
    Ah, eu não sei dizer...durou muito tempo...eu não era nem nascida...ela era solteira. Vinha uns times de fora jogar aqui. Ela nasceu em 1913 e organizou este time quando era solteira. Ela casou por volta  de 1942. Casou com uns 28 a 30 anos. Este time funcionou nos anos 1930. O povo era muito animado, o campo enchia de gente.

    Que outros atributos você considera para sua mãe?
    Ela era muito decidida. Ela organizava bailes no mercado e nas casas, como por exemplo na casa que foi de Zilda Pedrosa, onde era o sindicato...também no salão onde era a padaria. Ela era solteira ainda e organizava e ia pra casa, por que seu irmão, Leocádio, era muito brabo, aí ela mandava os outros pedir pra ele deixar ela ir, como se ela não tivesse organizado nada. Ela era também cantora da Igreja e ajudava muito nos pavilhões, na arrematação ali onde hoje é a praça. Ela tinha coragem e partia para organizar as coisas. Mãe morreu com 84 anos (1997) mas morreu com uma cabeça muito “moderna”, não ignorava nada.

    Bem, ela ajudava no futebol, na igreja, nas festas e depois na banda...já que estamos voltando aos anos 30 ou 40, ela falava se trazia alguma banda de fora?
    Não, porque havia a banda daqui na época. Até meu avô, “Zé do Bombo” tocava. Ele morava na Lagoa do Mel, todos os filhos nasceram lá, ele era marchante e ajudava muito as pessoas... antes dele perder a visão, ele veio para a Barra e morava ali vizinho a Luiz (Rua Thomaz de Aquino hoje). Terminou cego, mas antes disso, na juventude ele tocou na banda.

    Por que este nome “Zé do Bombo”?
    O nome dele era José do Nascimento, mas como ele tocava na banda, o bombo, acabou recebendo este apelido por causa da carreira que deu na briga dos “perrepistas e liberais”. Ele correu e entrou “debaixo” da cama com o bombo. Daí até o resto da vida as pessoas o conhecia como “Zé do Bombo”, era uma pessoa de um coração muito bom.

    Você chegou a conhecer ele?
    Sim, ele já era cego, inclusive eu era criança e me lembro dele sentado na janelinha do meio da casa, com o capote (Era uma peça de roupa, como se fosse uma capa). Esse gosto de música dele acabou passando pros outros.

    Sra. Mira de Biino conosco no dia 10 de maio de 2016, durante nossa conversa para este post.

    Muitos outros assuntos tratamos com a Sra. Mira de Biino, todavia, por questões de espaço fizemos esta seleção. Nosso agradecimento pelas informações e inclusive imagens que temos apresentado neste site, como também sua forma de contribuir para o conhecimento do passado de Barra de São Miguel.

    João Paulo França, 29 de maio de 2016.


    Fonte:

    Entrevista e imagens cedidas pela Sra. Ermira Maria de Fátima Pinto.