Série o que vivi, ouvi e senti na História: entrevista com a Sra. "Mira de Biino".

Estamos iniciando hoje este espaço onde pretendemos apresentar entrevistas com os moradores de Barra de São Miguel acerca de suas memórias sobre a cidade. Por isto, intitulamos esta coluna como a "Série o que vivi, ouvi e senti na História". Neste primeiro encontro, apresentamos um trecho, não literal, da entrevista de 59:00 minutos que gravamos no dia 10 de maio de 2016, com a Sra. Ermira Maria de Fátima Pinto, conhecida como "Mira de Biino", nascida em 08 de outubro de 1953 e amante da história local, além de possuidora de belo acervo de imagens e material de Barra de São Miguel.

A vida da Sra. Joseja Gonçalves Pedrosa (conhecida Zefinha de Biino, mãe de Mira) é o mote principal de nossa conversa, passando pela influência da Sra. Zefinha de Biino na fundação do "Aití" ou "Haití" Clube, nas festas e igreja local, bem como o apoio a Banda de Música de Barra de São Miguel, além de um pouco da história do Sr. "Zé do Bombo" (Avô da Sra. Mira). Iniciemos:

Sra. Mira, nos fale um pouco sobre a participação de sua mãe, Zefinha de Biino na reativação da banda a partir de 1964.

Ela tinha adoração por esta banda, ela se empenhou para esta banda. Ela dizia: "eu não quero que a banda morra". Ela tinha uma frase muito bonita: "eu daria minha vida mil vezes para essa banda não se acabar". Quando a banda estava em aperto ela saia no mato mais Paulo meu irmão e voltava com um "garajal" de galinhas nas costas, ovo, bode...ela vendia e entregava o dinheiro ao mestre para comprar coisas como bocal, palheta, aqueles cremes, fardamento.... toda vez que a banda estava em apuros ela caia em campo pra não deixar "cair".

Sra. Zefinha de Biino (1913-1997)
Alguém na família era músico?
Sim, Paulo, Luiz, Fernando, Raimundo, todos os filhos homem.

Ela chegou a juntar outras pessoas pra dar força a ela?
Sim, chegou a ter uma associação com padrinho Otacílio, Zezé de Joca, Tetinha, e outras pessoas de condição formaram uma associação, mas depois foi esfriando e parou. Mas ela continuou ajudando. As vezes Braz (o mestre) falava que tava difícil sair na festa de São Miguel, ela ia e fazia rifa e arrumava uma forma qualquer e ajudava.

Que outras festas, além da de São Miguel havia tocadas?
Procissão do menino Deus, Festa de São Miguel, mês de maio, retretas... lembro também a Festa de São Sebastião, dia 20 de janeiro...já assisti muita procissão tocada pela banda. Lembro também da festa de todos os santos, que era Chiquinha de João Justino que fazia dia 01 de novembro.

Voltando para a banda, tem lembrança de que locais ela tocou?
Cabaceiras, Campina, Santa Cruz, Riacho Fundo... se deslocava muitas vezes em cima de um caminhão mesmo. Lembro de um Fó laranja e branco de Chico de Nô que a banda viajava.

Sua mãe contribuiu até que época da vida com a banda?
Até depois que Paulo meu irmão foi para Caruaru. Teve umas coisas e ela esfriou com a banda, mas mesmo assim, enquanto pode ela contribuiu com a banda. Ela era tão apaixonada por banda que todos os anos ela trazia a banda do 4º Batalhão de Caruaru para a Festa de São Miguel. Ela acolhia os músicos em sua casa.

Banda do 4º Batalhão de Caruaru que vinha tocar em Barra de São Miguel. O Primeiro a frente é o Sr. Maurício Silva de Araújo, e o 3º a frente é o Sr. Paulo, filho da Sra. Zefinha de Biino.

A gente agora vai falar sobre um time de futebol que sua mãe fundou. O que você tem a falar sobre isto?
Ela contava que tinha fundado um time de futebol com muito sacrifício. Comprou um rádio pra fazer uma rifa e pra isto ter condição de comprar o padrão, a bola pra eles jogarem. E organizou este time neste mesmo campinho atrás do cemitério. Muita gente jogava: meu pai era o "quipa" (goleiro) do time. Ela fez um hino pra o time. Eu acho, se não me falha a memória que o nome do time era Haiti Clube ( ou Aití?). Ela que colocou este nome.

Este  time teve quanto tempo de duração?
Ah, eu não sei dizer...durou muito tempo...eu não era nem nascida...ela era solteira. Vinha uns times de fora jogar aqui. Ela nasceu em 1913 e organizou este time quando era solteira. Ela casou por volta  de 1942. Casou com uns 28 a 30 anos. Este time funcionou nos anos 1930. O povo era muito animado, o campo enchia de gente.

Que outros atributos você considera para sua mãe?
Ela era muito decidida. Ela organizava bailes no mercado e nas casas, como por exemplo na casa que foi de Zilda Pedrosa, onde era o sindicato...também no salão onde era a padaria. Ela era solteira ainda e organizava e ia pra casa, por que seu irmão, Leocádio, era muito brabo, aí ela mandava os outros pedir pra ele deixar ela ir, como se ela não tivesse organizado nada. Ela era também cantora da Igreja e ajudava muito nos pavilhões, na arrematação ali onde hoje é a praça. Ela tinha coragem e partia para organizar as coisas. Mãe morreu com 84 anos (1997) mas morreu com uma cabeça muito “moderna”, não ignorava nada.

Bem, ela ajudava no futebol, na igreja, nas festas e depois na banda...já que estamos voltando aos anos 30 ou 40, ela falava se trazia alguma banda de fora?
Não, porque havia a banda daqui na época. Até meu avô, “Zé do Bombo” tocava. Ele morava na Lagoa do Mel, todos os filhos nasceram lá, ele era marchante e ajudava muito as pessoas... antes dele perder a visão, ele veio para a Barra e morava ali vizinho a Luiz (Rua Thomaz de Aquino hoje). Terminou cego, mas antes disso, na juventude ele tocou na banda.

Por que este nome “Zé do Bombo”?
O nome dele era José do Nascimento, mas como ele tocava na banda, o bombo, acabou recebendo este apelido por causa da carreira que deu na briga dos “perrepistas e liberais”. Ele correu e entrou “debaixo” da cama com o bombo. Daí até o resto da vida as pessoas o conhecia como “Zé do Bombo”, era uma pessoa de um coração muito bom.

Você chegou a conhecer ele?
Sim, ele já era cego, inclusive eu era criança e me lembro dele sentado na janelinha do meio da casa, com o capote (Era uma peça de roupa, como se fosse uma capa). Esse gosto de música dele acabou passando pros outros.

Sra. Mira de Biino conosco no dia 10 de maio de 2016, durante nossa conversa para este post.

Muitos outros assuntos tratamos com a Sra. Mira de Biino, todavia, por questões de espaço fizemos esta seleção. Nosso agradecimento pelas informações e inclusive imagens que temos apresentado neste site, como também sua forma de contribuir para o conhecimento do passado de Barra de São Miguel.

João Paulo França, 29 de maio de 2016.


Fonte:

Entrevista e imagens cedidas pela Sra. Ermira Maria de Fátima Pinto.