1877 - "Febres de Mau Caracter" ou "Febre Amarela" em Barra de São Miguel

No século XIX a pequena vila da Barra de São Miguel, enfrentou não só o surto do cólera em 1862 (Acesse aqui o post). Quinze anos após, em 1877, de junho a setembro encontramos diversos recortes de jornais que tratam das "febres de mau caracter" ou "febre amarela" na mesma povoação sendo notícia nos diversos jornais do Império, do Ceará passando pela Bahia até, inclusive, a capital federal, o Rio de Janeiro.

Iniciemos, observando o Jornal "O Cearense", de 10 de junho de 1877:


Na parte das notícias da "Parahyba", se lê:

" -Na Barra de S. Miguel desenvolveram-se febres de mau caracter que já tem feito mais de 15 victimas e tinham muitas pessoas atacadas". 

Percebe-se que mais uma vez a vila está acometida de uma peste que já dizimou "mais de 15 victimas", e com "muitas pessoas atacadas". Observemos a seguir o jornal baiano "O Monitor" de 07 de julho de 1877, onde se lê:


Este jornal baiano reproduz notícia do jornal "O Dispertador" que diz:

"- Diz o Dispertador que a febre amarella continua a fazer victimas na povoação da Barra de São Miguel".

Aqui temos a confirmação que "a febre amarella continua a fazer victimas" no pequeno povoado paraibano. Vale ressaltar que esta é uma notícia replicada do jornal paraibano "O Despertador". A seguir vejamos que as notícias já chegavam a capital do império, o Rio de Janeiro, através do "Jornal do Commercio" de 10 de julho de 1877. Observemos:

 
Lê-se na notícia:

"PARAHYBA - A febre amarella continua a fazer victimas na povoação da Barra de São Miguel."

Percebe-se que esta nota do Jornal do Commercio é semelhante à anterior e mais uma vez menciona que, na Paraíba, a febre amarela continua a "fazer victimas".

Confirmando esta epidemia e apresentando algumas providências das autoridades, O Diário de Pernambuco dos dias 02 e 03 de julho de 1877 noticia que o Governo finalmente estava a enviar remédios para o Município de Cabaceiras, o que conjecturamos servir também a Vila da Barra de São Miguel, pertencente no período àquele território. Observemos:


Nas notícias se lê:                                

"PARAHYBA

- Foi remetida para Cabaceiras outra ambulancia com medicamentos para as pessoas affectadas de febres de mao caracter." (Dia 02 de julho de 1877)



- Para o termo de Cabaceiras, onde reina febres de mao caracter fez S. Exc. o Sr. Dr. Esmerino seguir uma segunda ambulancia de remedios homeopathicos segundo as prescripções do Dr. inspector da saude publica, a ser entregue a respectiva commisão. (Dia 03 de julho de 1877)

Pelo que as fontes nos permitem afirmar, tais "medicamentos", as astúcias dos moradores e o "tempo" resolveram a questão, já que no mês de setembro, tem-se a impressão que a febre estava cedendo. Vejamos mais uma vez o "Jornal do Commercio" de 08 de setembro de 1877.


A nota é pequena no tocante a Barra de São Miguel, mas bastante elucidativa. No último parágrafo lê-se:

PARAHYBA - (...)
"Tinhão cessado as febres na Barra de S. Miguel."

Desta forma, percebemos que a povoação da Barra de São Miguel enfrentou e venceu mais uma epidemia no século XIX. Haveria nestas lutas medicinais alguma relação com festas religiosas no município? Continuamos nossas investigações.

João Paulo França, 30 de maio de 2016.


Fonte:

Jornal "O Cearense", de 10 de junho de 1877, ano XXXI, nº 49.
Jornal "O Monitor" de 07 de julho de 1877, ano II.
Jornal do "Commercio" de 10 de julho de 1877 e de 08 de setembro de 1877.
Jornal "Diário de Pernambuco" dos dias 02 e 03 de julho de 1877.