24 de dezembro: Procissão do "Menino Deus do Brejinho" em Barra de São Miguel - PB

Neste dia, 24 de dezembro, nosso Portal apresenta fragmentos de uma das mais belas e antigas festas religiosas do município de Barra de São Miguel: a Procissão do "Menino Deus do Brejinho". Para nos contar um pouco desta história, nosso entrevistado é o Sr. Severino Pereira de Alcântara, conhecido por Seví Pereira, de 88 anos, atual responsável pela guarda desta tradição. Inicialmente, vejamos uma imagem da saída da procissão do Sítio Brejinho:

Imagem 1 - Saída do Menino Deus no Brejinho em 2014. - Acervo de André da Costa Pinto

É tradição em Barra de São Miguel- PB...

Todo dia 24 de dezembro, véspera de Natal, logo cedo da manhã e ao longo do dia, diversas pessoas saem em pequenos grupos da cidade de Barra de São Miguel e se dirigem em caminhada até Sítio Brejinho, distante aproximadamente uma légua (06 quilômetros), para ir "buscar o Menino Deus", uma imagem pequena de madeira, com aproximadamente 20 cm, que passa o ano naquele lugar. Ao longo da procissão outras pessoas vão se juntando ao cortejo, soltando fogos, fazendo orações, ou simplesmente caminhando descalço... ao fim da tarde, os moradores que ficam na cidade começam a escutar o estouro dos fogos, que a princípio se mostram baixinhos, indicando que ainda "está longe o Santo". A medida que passa o tempo, os sons do fogaréu se tornam mais vibrantes e próximos, indicando que a caminhada já está "atrás da serra", "na cerâmica", "no riacho salgado", enfim, nos diversos pontos pelos quais segue esta procissão que congrega seguramente centenas e centenas de fiéis...ao entrar na cidade, a Filarmônica São Miguel e outras dezenas de moradores recepcionam aos caminhantes na "Casa de Dorinha de Bibi" e de lá seguem rumo a igreja de São Miguel Arcanjo. A pequenina imagem fica na Matriz até o dia 06 de janeiro, data que a mesma é levada de volta em procissão para o Sítio Brejinho. 

A origem da "Procissão do Menino Deus do Brejinho":

O Sr. Seví Pereira nos conta que desde sua infância tem lembrança da festa do "Menino Deus". Nascido em 1929, a partir dos 10 anos de idade guarda recordações desta tradição. Com relação a pequena imagem do "Menino Deus", o mesmo nos informa que ela vivia na casa de "um homem que era seu bisavô", que o mesmo não chegou a conhecer. Quando este faleceu, seu avô, "Antônio Inácio José de Moura", familiar com o qual conviveu, foi quem passou a tomar conta da imagem e teve a responsabilidade de manter a tradição.
O bisavô do Sr. Seví Pereira tinha esta promessa de trazer a imagem do "Menino Deus" do sítio Brejinho para o povoado da Barra de São Miguel. Seu avô manteve este ritual e recebia o auxílio do "Sr. Olinto Rico, pai de Bilita e Bila". Segundo o Sr. Sevi, a tradição foi crescendo porque as pessoas iam fazendo suas promessas para o "Menino Deus do Brejinho e tinha suas graças alcançadas".
Quando o seu avô faleceu, quem passou a tomar conta desta procissão foi uma irmã de sua mãe, de nome "Titia Quina ou Tiquinina". Esta, seguiu adiante, e quando faleceu passou a tradição para o seu "Tio Salustiano". Este ao falecer, deixou a responsabilidade para a mãe do Sr. Seví, a Sra. Luíza. Sua mãe pediu pouco antes de morrer: "meu filho, nunca no mundo solte esta procissão, sempre faça direitinho".

Imagem 2 - Procissão do Menino Deus no Brejinho em 2015. - Acervo de Alisson Nascimento

Uma promessa símbolo da tradição do "Menino Deus do Brejinho..."

Segundo o Sr. Seví Pereira, entre tantas promessas feitas por ele e outras pessoas para o "Menino Deus do Brejinho", merece destaque a que foi realizada para "Adalberto e seu filho "Biu" (Severino Domingos do Nascimento). Após uma grande queda de cavalo, onde os mesmos passaram vários dias doentes, inclusive sem fala, o Sr. Seví conversou com Sra. Zefinha (esposa de Adalberto, mãe de "Biu") e fez a promessa para os mesmos "escaparem". Seu Seví conta que fez o pedido ao santo e os dois conseguiram sua cura, voltando a caminhar e conversar normalmente, vivendo muitos anos de vida. Desta forma, após a graça alcançada, o Sr. Adalberto e toda sua família começaram a fazer o percurso, como se diz em Barra de São Miguel, de "ir buscar o Menino Deus no Brejinho" a pés e descalços. Também, as flores do andor passaram a ser uma doação desta família por muitas décadas, até poucos anos atrás. Vinham parentes de todos os recantos para "pagarem a promessa" e as pessoas se juntavam no Brejinho e partiam em procissão nesta data de 24 de dezembro.

O desenvolvimento da tradição...

Hoje, os moradores locais conhecem este festejo religioso a partir da procissão do dia 24 de dezembro. Porém, o Sr. Seví Pereira nos informa que grande e bonita era a festa do dia 06 de janeiro, quando as pessoas de Barra de São Miguel iam levar de volta a imagem do "Menino Deus" para o Brejinho. Neste dia, a noite era celebrada uma animada novena no Sítio, inclusive com arrematação. Todavia, em virtude do mal comportamento de algumas pessoas, a festa realizada em 06 de janeiro no Sítio foi suspensa e não se realiza mais.
Entre outras pessoas, o Sr. Seví Pereira lembra que a moradora do Sítio Brejinho, Antônia Gonçalo, era uma das "cantoras da igreja", que puxavam a novena. Também faz referência a "uma filha do Sr. Deda", a "Maria da Paz de Pedro Pinto".
Ao longo do ano, pessoas de outros lugares como Caruaru, Campina Grande, João Pessoa, procuram o Sr. Seví para visitar a imagem do "Menino Deus" lá no Sítio Brejinho. O mesmo nos diz que tem grande satisfação em auxiliar estas pessoas e ver elas "acendendo velas, soltando fogos e rezando por graças alcançadas".
O Sr. Seví Pereira tem fé que a tradição familiar de celebrar a devoção do "Menino Deus" irá se manter. Tem muito orgulho de seus filhos e netos. Acredita que os mesmos vão continuar seu legado, em especial sua neta Rita de Cássia, que o mesmo acolheu em seus braços logo após o nascimento, além de Raquel, Rosana, Rosalina e Rafael, que também são mencionados com grande admiração.

Imagem 3 - Sr. Seví Pereira
Um pouco da história do Sr. Seví Pereira...

Nascido no dia 13 de maio de 1929, no sítio Brejinho, em uma "taperinha coberta com côco catolé" perto da casa de "Tereza de Agnelo", o Sr. Severino Pereira de Alcântara teve 04 irmãos, vivendo sua infância no mesmo Sítio. O apelido de "Seví" foi posto pelo pai, que um dia lendo um "lunário" achou este nome e colocou para diferenciar de outro Severino que havia na casa. A mãe era Luíza Maria de Alcântara, filha de Antônio Inácio José de Moura (conhecido por Antônio Inácio). Entre seus trabalhos, além da agricultura e da criação de animais, lembra da construção do açude de Barra de São Miguel. O mesmo casou em 1952, com a Sra. Rita Martins de Alcântara, de família de São Domingos do Cariri, com a qual teve 04 filhos: Valdir, Maria e Célia (Ainda criança o seu outro filho foi a óbito). Atualmente viúvo, o Sr. Seví Pereira trabalha no Sítio Brejinho todos os dias, talvez uma das justificativas para sua grande disposição e jovialidade do alto de seus 88 anos de vida.

Uma conjectura nossa...

Por fim, uma pergunta ainda permanece sem uma resposta definitiva: de qual santo seria a imagem desta devoção? Seria do próprio "Menino Jesus", filho de Maria, ainda criança? Não temos como afirmar categoricamente, pois mais pesquisas se fazem necessárias, todavia, conjecturamos também poder tratar-se de uma pequena imagem do "Menino Jesus de Praga", uma devoção católica centenária que começou na Europa, na cidade de Praga, capital da atual República Checa e que foi trazida ao Brasil, por intermédio da Congregação dos Padres Carmelitas. Em breve esperamos ampliar nosso conhecimento acerca desta tradição religiosa barrense.

Agradecimentos...

Por fim, deixamos nossos agradecimentos aos Sr. Seví Pereira e sua família pelas informações prestadas. 
Você, amigo (a) leitor (a), tem alguma fotografia desta tradição religiosa local? Tem alguma história ou promessa que envolve a procissão do "Menino Deus do Brejinho"? Se desejar, compartilhe conosco!

João Paulo França, 24 de dezembro de 2017.

Fonte:

Acervo Pessoal
Entrevista com o Sr. Sevi Pereira, concedida em 23 de dezembro de 2017
História do Menino Jesus de Praga. Disponível em: http://cruzterrasanta.com.br/historias-de-santos.aspx?idsanto=19#c. Acesso em 23 dez. 2017.
Rede Social de André da Costa Pinto
Rede Social de Alisson Nascimento


1961 - A luta pela emancipação política de Barra de São Miguel - PB (Parte 3)

Há exatos 56 anos, em uma quinta-feira, 14 de dezembro de 1961, através do Governador paraibano Pedro Moreno Gondim, foi assinada a Lei Estadual nº 2.623 que oficializou a emancipação política de Barra de São Miguel frente ao município de Cabaceiras. Ao mesmo tempo que recordamos este evento histórico, aproveitamos esta data para homenagear Barra de São Miguel apresentando mais um documento histórico desta cidade.
A seguir, vejamos as duas páginas da referida Lei 2.623/1961:

Imagem 1 - Página 1 - Lei 2.623/1961
Na segunda página a seguir, observamos a parte do Veto Parcial do Governador ao Art. 6º da Lei 2.623/1961


A efetivação desta lei, ou seja, a instalação do município de Barra de São Miguel só ocorreu no dia 08 de abril do ano seguinte, 1962, data que o Sr. Ramiro Pereira Maia tomou posse como primeiro prefeito do novo município paraibano.

João Paulo França, 14 de dezembro de 2017.

Fonte:

PARAÍBA. Assembleia Legislativa. Lei nº 2.305/1961. Disponível em: http://www.al.pb.leg.br/leis-estaduais

Veja também:

1961 - A luta pela emancipação política de Barra de São Miguel - PB (Parte 1)

1961 - A luta pela emancipação política de Barra de São Miguel - PB (Parte 2)

13 de dezembro - Registros da devoção à Santa Luzia na região de Barra de São Miguel - PB

A data de 13 de dezembro é bastante emblemática para a comunidade católica: "Dia de Santa Luzia". Nesta matéria procuramos conhecer um pouco melhor alguns aspectos desta tradição religiosa, tanto em seu aspecto material, quanto simbólico, para a região caririzeira. 

Imagem 1
Em Barra de São Miguel - PB, além da longa história de celebração de novenas e procissões na igreja matriz da sede do município, Santa Luzia também é venerada pelos habitantes do Sítio Cachoeira e suas adjacências, a exemplo da "Melancia", do "São Francisco" e "Assentamento Bom Jesus".
A partir do acervo do nosso amigo colaborador José Clemilton Truta, vamos conhecer alguns fragmentos desta devoção à Santa Luzia pelas referidas localidades.
Para iniciarmos, observamos uma bela imagem da construção do templo católico na comunidade da Cachoeira, local construído no início deste século XXI. Segundo informação escrita na própria fotografia, este seria o aspecto da igreja de Santa Luzia no ano de 2003.
Destaque-se a união da comunidade para a realização de diversas campanhas de arrecadação de recursos para a construção da Igreja de Santa Luzia.
A seguir, vejamos mais uma imagem desta construção, a partir de sua estrutura interna:

Imagem 2
Barra de São Miguel por muitas décadas pertenceu à Paróquia de São Pedro de Caraúbas - PB, criada em 04 de outubro de 1923. Porém, a mesma passou muitos anos sem contar com um sacerdote com moradia fixa na mesma, sendo administrada por Pe. Paulo Roberto, vigário da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição da cidade de Sumé - PB, que dava assistência por esta região. O mesmo celebrou a primeira missa em Barra de São Miguel no dia 29 de maio de 1960 e ficou a frente da comunidade local até o início deste século XXI. Desta forma, apesar de suprir os sacramentos e celebrações na sede do município, percebe-se que era um tempo onde o trabalho de criação de novas comunidades acabava ficando em segundo plano.
A partir da assistência e posterior administração da Congregação Redentorista à Paróquia de São Pedro, com destaque, entre outros, para o Padre à época, hoje Bispo, Dom José Luiz Ferreira Sales CSsR. ,  percebe-se o crescimento no número de comunidades que passaram a se organizar, primeiramente em torno das celebrações de missas e demais sacramentos em locais improvisados, como grupos escolares, e em seguida a construção de templos próprios nas comunidades.

Imagem 3
É neste contexto que celebrações como as descritas nas imagens 3 e 4 passaram a fazer parte do cotidiano da zona rural de Barra de São Miguel, a exemplo da Comunidade de Santa Luzia da Cachoeira. Inicialmente a população desta comunidade realizava seus encontros e celebrações no Grupo escolar do Sítio Melancia.
Segundo registro escrito no verso destas fotografias, estas imagens são de "missa na Comunidade Cachoeira 2002", ou seja, é um registro deste momento inicial da comunidade onde as pessoas se reunião no grupo escolar, enquanto eram realizadas as obras de construção do templo local.
Imagem 4
Na imagem 4 vemos o espaço celebrativo aberto, com muitos moradores da localidade da Cachoeira e suas adjacências.
A partir de escolha e aclamação da própria comunidade, Santa Luzia foi escolhida como padroeira da Igreja que foi construída nesta região.
A partir de então, neste período entorno da data de 13 de dezembro, a festa religiosa em homenagem a Santa Luzia passou a também ser celebrada pelos moradores locais. Esta é uma tradição que está a cada ano crescendo mais.

Imagem 5
Na imagem 5 podemos observar a capa de um convite das primeiras Festas de Santa Luzia na comunidade da Cachoeira. Trata-se de celebrações religiosas realizadas no período de 08 a 17 de dezembro de 2006. Aqui, o templo já apresenta o aspecto final, embora outras obras ainda viriam a ser realizadas posteriormente. Destacamos ainda que, na época, estava a frente da Paróquia de São Pedro, o Rvmo. Pe. Rogério Epifânio Roque, que assina o convite festivo.

A seguir, vejamos uma interessante descrição que de certo modo nos aponta porque Santa Luzia tem tão longa tradição de veneração, não só na região de Barra de São Miguel, mas no Nordeste brasileiro como um todo. A sabedoria popular consagrou de geração em geração as conhecidas "experiências de Santa Luzia". Sobre estas, vejamos o que nos diz o poeta Zé Saldanha:

"- Na véspera do dia consagrado à Santa Luzia, riscam-se numa tábua ou papelão seis retângulos, correspondendo cada um deles a um mês do ano, de janeiro a junho, época do inverno, coloca-se em cada quadrado uma pedra de sal e expõe-se ao sereno, nessa noite de 12 para 13 de dezembro. Pela manhã, vai-se ver o que aconteceu. Conforme o sal esteja derretido neste ou naquele quadrado, choverá mais ou menos nos meses correspondentes.
- Uma outra profecia de Santa Luzia consiste em observar os dias 14 a 19 de dezembro. Para cada dia corresponde um mês do primeiro semestre. Assim chovendo, por exemplo, no dia 17, o mês de abril será bom de inverno".


Para finalizarmos, vejamos o seguinte relato sobre a história de Santa Luzia:

"Santa Luzia nasceu no ano de 280, na cidade litorânea de Siracusa, Itália. Seus pais eram nobres e cristãos. O pai, Lucio, faleceu quando Luzia era muito pequena. Sua mãe, Eutíquia, a educou. (...) Queria consagrar sua vida a Deus e fazer voto de castidade e fidelidade a Jesus. Além disso, ela iria entregar seu dote de casamento (uma pequena fortuna) e seus bens para os pobres. Sua mãe concordou. Aconteceu, porém, que Luzia tinha um pretendente para casamento. E este não se conformou com a decisão de sua amada e a denunciou ao Governador Pascásio, acusando-a de ser cristã. O imperador Diocleciano tinha emitido um decreto autorizando punição exemplar para os cristãos. (...) O governador, furioso, mandou matá-la ali mesmo. Os carrascos jogaram sobre ela resina e azeite fervendo, mas nada aconteceu à jovem. Os carrascos continuaram com o seu martírio e lhe arrancaram os olhos. Daí vem a devoção a Santa Luzia como protetora dos olhos. (...) Santa Luzia morreu no dia 13 de dezembro do ano de 304. Os cristãos de Siracusa a elegeram Padroeira da cidade e construíram um templo em seu nome. (...) No ano de 1040 o General grego Jorge Mariace levou o corpo de Santa Luzia para Constantinopla a pedido da imperatriz Teodora. No ano de 1204 os cruzados venezianos reconquistaram o corpo de Santa Luzia e o levaram para Veneza, lugar em que esta até hoje na igreja de São Jeremias, onde é venerado".

Por hora, sigamos recolhendo mais memórias e histórias de Barra de São Miguel e de suas comunidades religiosas, a exemplo de Santa Luzia da Cachoeira.

João Paulo França, 13 de dezembro de 2017

Fonte:

Acervo e informações de José Clemilton Truta.
Acervo da Câmara de Vereadores de Barra de São Miguel - PB.
Site Santos e ícones católicos. Santa Luzia Disponível em: http://cruzterrasanta.com.br/historias-de-santos.aspx?idsanto=95#c. Acesso em 12 de dezembro de 2017. 
Site Recanto das Letras. Zé Saldanha. Disponível em: https://www.recantodasletras.com.br/resenhas/4279487 .  Acesso em 13 de dezembro de 2017.

1961 - A luta pela emancipação política de Barra de São Miguel - PB (Parte 2)

Nesta série especial acerca da emancipação política barrense, voltamos mais uma vez ao ano de 1961 para observamos um documento histórico da Câmara de Vereadores de Cabaceiras: o pedido de afastamento do Sr. Ramiro Pereira Maia para assumir interinamente o cargo de primeiro prefeito de Barra de São Miguel - PB. Antes, vejamos como esta história se desenvolveu.

Vamos aos eventos:

1 - O município de Barra de São Miguel - PB foi criado por meio da  Lei Estadual nº 2.623, de 14 de dezembro de 1961,desmembrando-se do território de Cabaceiras - PB. 
2 - Em 25 de dezembro de 1961 o Sr. Ramiro Pereira Maia encaminhou à Câmara de Vereadores cabaceirense, à qual o mesmo era presidente, o pedido de afastamento para assumir a Prefeitura do novo município.
3 - A efetiva instalação do município de Barra de São Miguel ocorreu em 08 de abril de 1962, data a partir da qual o Sr. Ramiro Pereira Maia efetivamente tomou posse como primeiro prefeito barrense.
4 - Em 07 de outubro de 1962 aconteceu a primeira eleição para prefeito, vice-prefeito e vereadores. Em disputa memorável, o Sr. Ismael Samarco Mahon (UDN) obteve 634 votos ( 61,37%), contra o opositor, o Sr. Ernesto Heráclito do Rego, que somou 399 votos ( 38,63%);
5 - Em 22 de outubro de 1962 o Sr. Ismael Samarco Mahon assumiu a prefeitura, como segundo prefeito em nossa galeria, porém, sendo o primeiro eleito diretamente pelo voto popular.

Imagem 1 - Ramiro Pereira Maia
O Primeiro Prefeito: Ramiro Pereira Maia.

Nascido em 06 de outubro de 1918 e falecido em 28 de dezembro de 1970, o Sr. Ramiro Pereira Maia foi o primeiro prefeito de Barra de São Miguel, conduzido ao cargo de forma interina no processo de instalação do município.
O mesmo foi eleito vereador no pleito de 1959 ainda pelo grande município de Cabaceiras (que à época englobava também o atual município de Barra de São Miguel). Candidato pelo PTB, o Sr. Ramiro Pereira Maia foi o vereador mais votado, com 304 votos, 17,79% dos votos válidos, segundo o site do TRE-PB.
Com estrondosa votação, (o 2º colocado obteve 168 votos e o 7º e último eleito, 113), o Sr. Ramiro P. Maia foi conduzido à presidência da Câmara de Vereadores de Cabaceiras. Em 1961, o mesmo teve que tomar uma importante decisão: permanecer no cargo ou licenciar-se da cadeira de vereador em Cabaceiras, para assumir interinamente a prefeitura de Barra de São Miguel? O mesmo optou pela segunda hipótese, conforme podemos observar no documento histórico a seguir, que faz parte do acervo da Câmara Municipal cabaceirense:

Imagem 2 - Acervo da Câmara Municipal de Cabaceiras.
Deste documento é possível fazer a seguinte transcrição:

"Câmara Municipal de Cabaceiras, 25 de dezembro de 1961.

Srs. membros da Câmara Municipal de Cabaceiras

Solicito desta Câmara, uma licença por tempo indeterminado, para assumir o cargo de Prefeito do novo Município de Barra de São Miguel.

Saudações

Presidente da Câmara Municipal

Ramiro Pereira Maia

Ilmos. Srs.
Membros da Câmara Municipal de Cabaceiras."

Desta forma, o Sr. Ramiro Pereira Maia se tornava apto a assumir os destinos de Barra de São Miguel no período.
Por fim, a título informação, observamos que a memória do Sr. Ramiro Pereira Maia foi lembrada por meio da nomenclatura de uma das escolas primárias do Distrito de Riacho Fundo, que atualmente é a sede de um Telecentro municipal. Desta tradição política, a família do mesmo tem atualmente o sobrinho, o Sr. Fabio José Maia de Miranda, como vice-prefeito de Barra de São Miguel (2017-2020).

João Paulo França, 12 de dezembro de 2017

Fonte:

Acervo e informações da Sra. Edilene Maia. (Agradecemos a colaboração e pesquisa do amigo leitor José Charles Rolim)
Acervo da Câmara Municipal de Cabaceiras - PB.
Site do TRE-PB. Disponível em: http://www.tre-pb.jus.br/eleicoes/eleicoes-anteriores/resultados-de-eleicoes .  Acesso em 12 dez. 2017.

Leia Também:
1961 - A luta pela emancipação política de Barra de São Miguel - PB (Parte 1)  

08 de dezembro - A imagem e a devoção de Nossa Senhora da Conceição do alto da Serra de Barra de São Miguel - PB

"Festa muito boa aqui era a que o povo do Jaques, um povo rico que morava no Jaques que fazia. A segunda festa boa aqui, depois da Festa de São Miguel era Nossa Senhora da Conceição, 08 de dezembro... o povo de seu Isaías, o povo de... esse povo era tudo de uma família, dona Teca, que chamavam Teca do Jaques, era esse o povo...depois da Festa de São Miguel era a maior festa, a de Nossa Senhora da Conceição" (Antônia Procópio)

Pelas palavras da Sra. Antônia Procópio na abertura desta nossa matéria, vemos como a data de 08 de dezembro marcou a memória e a tradição religiosa de Barra de São Miguel - PB. Neste sentido, nosso portal faz este resgate histórico neste dia, afinal, nas palavras de nossa entrevistada, esta era a "segunda festa boa aqui, depois da Festa de São Miguel".
A seguir, vejamos uma imagem barrense de Nossa Senhora da Conceição:

Imagem 1 - Acervo da Igreja São Miguel
A referida imagem pertence ao acervo da Igreja de Barra de São Miguel. É importante mencionarmos que a mesma ficava no lado esquerdo do Cruzeiro da Serra, ao norte da cidade. Segundo o Sr. Clemilton Truta, esta aparência atual é um trabalho artístico do artesão Lúcio Moura (Lúcio de Zé de Santo) que fez a restauração após a mesma ser trazida do cruzeiro para a igreja. Desde então, a imagem não voltou mais para o ambiente original.
Vejamos a seguir o Cruzeiro onde a imagem de Nossa Senhora da Conceição ficava:

Imagem 2 - Acervo particular em 22 de abril de 2015
Nos falando sobre a construção deste monumento, a Sra. "Dorinha de Bibi" nos diz: "O Cruzeiro da Serra deste lado de cá que tem Nossa Senhora foi seu Isbelo que fez, um velho que tinha aqui, não sei de onde ele era". Investigando um pouco mais esta história, neste dia 08 de dezembro de 2017, em entrevista, a Senhora Josefa do Nascimento Costa (Zefinha Costa) nos apresenta o seguinte relato sobre a devoção à Nossa Senhora da Conceição e a construção do monumento para a mesma em Barra de São Miguel:

"Manoel Velho, que era irmão da minha mãe, que morava em Vertentes, ele vinha de lá, não sei em que, se era a cavalo, só sei que ele vinha com uma Nossa Senhora da Conceição neste dia 08 de dezembro e fazia uma procissão lá de Tonheira, que não era ainda de Tonheira, vinha descendo aquela ladeira em procissão...ele vinha de Vertentes, era uma imagenzinha pequena assim (aproximadamente 50 cm) e ia para a igreja, era uma festa medonha, era bem muita gente, o povo do lugar esperava com fogos lá onde hoje é de Tonheira e de lá fazia esta procissão... eu era criança, lembro como se fosse hoje, devia ter o quê? Devia ter uns 08 anos, sou nascida em 1944...
Sobre a construção eu só me lembro que eu era menina e seu Isbelo morava ali no beco, do lado da casa de Maria de Mário...eu me lembro que foi ele que levou esta Nossa Senhora da Conceição para a serra...eu ouvia falar que foi por causa de uma promessa, ele foi o organizador da construção... depois lembro que houve uma reforma, que Maria de Pedro tinha uma devoção e começou a ajeitar lá... Cazuza Belé era pedreiro e foi quem fez esta reforma, mas parece que o nincho ficou pequeno e não coube a imagem da santa... lembro que lá tinha uma caixinha para as pessoas colocarem contribuição, era outro tempo...
Depois, com a santa na serra, todo dia 08 de dezembro tinha procissão para lá... a gente mesmo fazia a novena... aqui na rua também se rezava a novena de Nossa Senhora da Conceição a noite. Não tinha padre aqui, Padre Paulo morava lá em Sumé, aí Maria de Tereza, Glorinha Pinto, Guida Hóstio, Joanita, Maria da Paz, eu, a gente puxava a novena... Tinha também a mãe de dona Joanita, minha madrinha Maria, ela zelava muito lá o cruzeiro, limpava, varria, era tão limpinho a parte do lado de Nossa Senhora da Conceição.
Eu varri muito lá mais Maria Tereza, madrinha Maria já velha acompanhava a gente...tirávamos as pedras do caminho da serra, que tinha uma subida pelo outro lado... ali era estrada antigamente, até o filho de Tila morreu lá, num dia de domingo, um caminhão com uma carrada de palma subiu e quando desceu deu um tombo e ele caiu, falecendo na hora...
Bem, a gente limpava lá do outro lado que era pra ficar mais fácil pra o povo subir...até um dia a gente fez uma promessa, eu e Maria, porque as mães da gente estavam doentes, aí a gente combinou que se a mãe da gente melhorasse a gente subiria no dia de Nossa Senhora da Conceição até o cruzeiro de joelhos... pagamos a promessa, sem nada nos joelhos, que nesse tempo nem calça cumprida a gente usava..." (Zefinha Costa)


Este belo relato nos diz muito acerca desta tradição religiosa barrense. O fato da Sra. Zefinha Costa não lembrar do "pessoal do Jaques" e sua relação com esta história, é algo que a princípio se explica pelo fato da mesma ser mais jovem que a Sra. Antônia Procópio. Esta, nascida em 1923 tem uma memória afetiva de décadas anteriores a Sra. Zefinha Costa, nascida em 1944, com recordações a partir da década de 1950. Todavia, como podemos perceber em ambos relatos, as histórias se complementam e nos mostram um pouco do passado religioso local. A seguir, mais um ângulo do Cruzeiro de Nossa Senhora da Conceição:

Imagem 3 - Acervo particular em 22 de abril de 2015
A partir desta imagem 3 podemos esclarecer melhor que estamos tratando deste cruzeiro do lado esquerdo, tendo em vista que o do lado direito é o conhecido "Cruzeiro de Frei Damião", com construção mais antiga. Voltando ao monumento de Nossa Senhora da Conceição, como é visível, após anos em que a imagem foi retirada do local, uma nova foi posta no lugar, todavia, esta era de Nossa Senhora das Graças.
Ainda temos que realizar mais pesquisas para compreendermos melhor a forma como o dia 08 de dezembro era comemorado em Barra de São Miguel e em que período esta seria uma festa local com tamanha importância, ficando, na opinião da Sra. Antônia Procópio, atrás apenas da tradicional Festa de São Miguel. Também, ainda precisamos conhecer melhor o "Sr. Isbelo" e a motivação para construir às suas custas este monumento.
Para finalizar, observemos a paisagem que é possível contemplar do alto do Cruzeiro de Nossa Senhora da Conceição:

Imagem 4 - Acervo particular em 22 de abril de 2015
Tem imagens antigas ou informações acerca deste lugar de Barra de São Miguel? Será um prazer compartilhar no nosso portal. Entre em contato conosco: joaopaulo_franca@yahoo.com.br.

Por hora, vejamos um pouco da história mundial da devoção em Nossa Senhora da Conceição:

"O dia da festa da Imaculada Conceição foi definido em 1476 pelo Papa Sisto IV. A existência da festa era um forte indício da crença da Igreja na Imaculada Conceição, mesmo antes da definição do dogma no século XIX.
No dia 8 de dezembro de 1854, dia da festa, o Papa Pio IX, com a Bula intitulada Deus Inefável (Ineffabilis Deus), definiu oficialmente o dogma da Santa e Imaculada Concepção de Maria.
Assim está escrito na bula (documento papal) intitulada Ineffabilis Deus que o Papa Pio X proclamou: Em honra da Trindade (...) declaramos a doutrina que afirma que a Virgem Maria, desde a sua concepção, pela graça de Deus todo poderoso, pelos merecimentos de Jesus Cristo, Salvador do homem, foi preservada imune da mancha do pecado original. Essa verdade foi-nos revelada por Deus e, portanto, deve ser solidamente crida pelos fiéis." (Site Santos e ícones católicos)


João Paulo França, 08 de dezembro de 2017.

Fonte:

Acervo pessoal
Acervo da Igreja São Miguel de Barra de São Miguel.
Informações de José Clemilton Truta
Informações da Sra. Josefa do Nascimento Costa (Zefinha Costa) em entrevista no dia 08 de dezembro de 2017.
Informações da Sra Antônia Procópio em entrevista no dia 12 de março de 2017 (nascida 13 de julho de 1923)
Informações da Sra. Dorinha de Bibi em entrevista no dia 31 de maio de 2016.
Site Santos e ícones católicos. Disponível em: http://cruzterrasanta.com.br/historias-de-santos.aspx?idsanto=9#c. Acesso em 07 de dezembro de 2017.

2010 - Coral São Miguel de Barra de São Miguel na TV Itararé

Nesta data, nosso site recupera matéria sobre o Coral São Miguel de Barra de São Miguel - PB, apresentada na TV Itararé e disponível no youtube no dia 05 de novembro de 2010. Vejamos uma das imagens da reportagem:


Esta é a Sra. Guida Hóstio e seu depoimento é um dos destaques da reportagem, além de diversos trechos do DVD "Ora pro Nobis", da produtora Quebra panela, sob a direção do barrense André da Costa Pinto.

Vejamos a seguir a reportagem completa, com 3:20 minutos:


Com certeza este é mais um importante registro histórico de nossa tradição de belas vozes locais.

João Paulo França, 04 de dezembro de 2017.

Fonte:

TV Itararé. https://www.youtube.com/watch?v=4a9y1yZzfCs . Acesso em 21 de novembro de 2017.