Site "Perspectiva Espacial de Barra de São Miguel, Paraíba" - Conheça esta obra de estudantes e professoras da ECIT Melquíades Tejo

Uma nova ferramenta que auxilia no conhecimento sobre o município está disponível no ambiente virtual: trata-se do site “Perspectiva Espacial de Barra de São Miguel-PB”, desenvolvido pelas professoras Ellori Mota, de Biologia, Mércia Roseane, de Geografia, e estudantes do Ensino Médio da Escola Cidadã Integral Melquíades Tejo, de Barra de São Miguel.

Segundo os desenvolvedores, “o site foi criado com o objetivo de apresentar o banco de dados georreferenciados realizado pelos alunos da disciplina eletiva "Tecnologia Espacial e Meio Ambiente". A disciplina tem como objetivo incentivar o uso de aplicativos de tecnologia espacial como Google Earth, para que os alunos possam fazer análises ambientais, como alterações na paisagem natural, indicativos de secas e desmatamento, reservatórios de água, fatores relacionados ao processo de crescimento urbano, atividades econômicas e potencial turístico do município de Barra de São Miguel – PB”.

Veja a imagem da página inicial do site:

 

Figura 1 - Imagem Inicial do Site
 

Em diálogo com a professora Ellori Mota, a questionamos sobre esta atividade com os estudantes do Ensino Médio. Ela nos diz que tem “o propósito de despertar no estudante o senso de investigação da sua própria realidade em termos de espaço geográfico, ampliando a visão de mundo do mesmo. A partir de dados espaciais livres para toda sociedade, os estudantes puderam refletir em uma escala maior sobre questões que envolvem o meio ambiente e a sociedade em que eles estão inseridos”.

 

Tratando do grau de envolvimento dos estudantes com a atividade, bem como a forma como eles acataram e desenvolveram o projeto, a professora Ellori Mota pontua que eles “receberam muito bem a ideia. Sempre participativos e com discussões muito conscientes em sala de aula (virtual). Após aprenderem as funções ofertadas pelo aplicativo de imagens de satélite, todos os dados que estão disponibilizados no site foram coletados e analisados pelos alunos. Os aspectos abordados foram totalmente desenvolvidos por eles”.

Ressaltamos que são estudantes do Ensino Médio, oriundos de localidades diferentes do Município, desde a Sede até seus Distritos. São estes os(as) desenvolvedores(as) e pesquisadores(as) do site "Perspectiva Espacial de Barra de São Miguel-PB”:

Figura 2: Desenvolvedores(as) e pesquisadores(as) do Site

Por fim, destacamos que o site tem as Seções: Início; Quem Somos; Análise ambiental; Reservatórios; Urbanização e distritos; Problemas e Soluções. Percebe-se assim que, trata-se de uma importante fonte de conhecimento e reflexão sobre aspectos espaciais de Barra de São Miguel. Uma produção de informações que dignifica nossa educação e coloca os conteúdos apreendidos na escola em diálogo com a comunidade. Desta forma, saudamos e parabenizamos as professoras Mércia Roseane e Ellori Mota, bem como os estudantes envolvidos.

Acesse todo o conteúdo do Site “Perspectiva Espacial de Barra de São Miguel-PB” AQUI.

O endereço é: https://sites.google.com/view/tecnologiaespacialbsm/in%C3%ADcio

 

João Paulo França, em 06 de agosto de 2021

Antônio Silvino em Cabaceiras, Paraíba, no ano de 1907 (Série Cangaço - nº 5)

 No início do século XX encontramos nos jornais de época diversas menções às passagens do bando de Antônio Silvino pelo grande município de Cabaceiras-PB, em regiões que posteriormente se emancipariam politicamente. Todavia, a Vila também era ponto de ataque dos cangaceiros, como veremos a seguir nesta nota do Jornal Pequeno, publicação editada na cidade de Recife-PE. Eis o relato:

Antonio Silvino – Novas Proesas

O famigerado caudilho Antonio Silvino tem ultimamente o seu grupo composto de 6 cangaceiros, todos bem municiado de rifles e cartucheiras.

Em dias da semana passada, Antonio Silvino, acompanhado de seus sequazes, visitou a villa de Cabaceiras, do vizinho Estado do norte, e foi a casa do vigário, a quem exigiu a quantia  de 1:000$000.

Pessoa chegada dalli, na segunda-feira ultima, nos informou que o padre não poude satisfazer a exigência do bandido e para não ser victima, implorou-lhe perdão.

Em seguida, Antonio Silvino foi a casa de um sr. Demetrio, cobrador de impostos e, não o encontrando, exigiu certa quantia da esposa do mesmo, conseguindo apenas obter 4$000. 

Como achasse muito pouco o dinheiro, o cangaceiro deu-o a uma velhinha.

Dali seguiu para a casa do fazendeiro Quincas Cavalheiro e solicitou 200$000.

O fazendeiro somente lhe entregou a quantia de 60$000, pois era o que tinha na ocasião.

Antonio Silvino retirou-se, depois de haver dito ao fazendeiro que iria buscar o resto na segunda-feira ultima.

Esta é uma interessante narrativa que apresenta possíveis itinerários da ação do bando na Vila. Não temos maiores detalhes acerca da possível resistência local ou mesmo fuga dos cangaceiros, tendo em vista que o informante do Jornal Pequeno não tratou de tais aspectos.

Por fim, vejamos um cenário ilustrativo de Cabaceiras, Paraíba, na primeira metade do século XX:

Este é um registro da Revista Era Nova do dia 15 de novembro de 1921. Na legenda se lê "Rua 9 de julho". Conjecturo ser uma imagem que tem ao fundo a Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Ressalto que se trata de uma paisagem de período posterior da ação do bando de Antônio Silvino, utilizada nesta matéria como cenário ilustrativo do aspecto urbano e do cotidiano cabaceirense nas primeiras décadas do século XX.

João Paulo França, em 13 de julho de 2021

Fonte:

Jornal Pequeno, Recife, sexta-feira, 22 de novembro de 1907, número 265, ano 9, página 2.

Revista Era Nova. Edição de 15 de novembro de 1921 e do ano de 1922. Disponível em: http://www.cchla.ufpb.br/jornaisefolhetins/acervo.htm. Acesso em 10 de março de 2017

Leia Também:

Antônio Silvino em Serra dos Bois, após o ataque à Barra de São Miguel em 1907 (Série Cangaço - nº 4)

Mês junino em Barra de São Miguel, Paraíba: uma tradição em diferentes territórios!

    Chegamos a mais um mês de junho e com ele trazemos uma procura pela identidade nordestina em volta dos festejados Santo Antônio, São João e São Pedro. Que tradições nos legaram as gerações passadas? Como eram celebrados os santos juninos em Barra de São Miguel? Que moradores locais podemos trazer na memória neste momento?

    Para responder estas e outras questões, procuramos um respeitado e animado informante dos tempos juninos de Barra de São Miguel, o sr. Manoel Gomes da Silva, popular Manezim de Euclides. Animado, em sua residência do sítio Mulungu, o clima já está pronto:

Decoração da Vila do Mané - Sítio Mulungu

 
Eis seu relato:

Que memórias você tem de sua infância no São João?

            Quando ainda era guri, lembro que não havia ainda os clubes na cidade, que era muito pequena ainda. O primeiro São João que vi foi ainda no Mercado Público, que era o local onde se faziam as festas. Lembro por causa de uma grande confusão que um cabra armou, batendo até na polícia, rodando um tamborete no ar. Dei uma carreira grande para o lado da casa de Maria de Mário, na esquina em frente da Prefeitura.

            A decoração era simples, só de bandeirola mesmo e lá no ambiente apenas. Agora, nas ruas tinha muitas fogueiras, umas grandes, outras pequenas, mas tinha muita fogueira. Outra coisa era a mesa farta. Até os anos 80 chovia bem e o povo lucrava. A alegria do São João era as mesadas de pamonha, canjica, principalmente nos sítios.

E depois do mercado, como se comemorava o São João?

            Depois começou as festas no Clube. Lembro bem que a principal era no Clube de Hélio, o Diversional Cariri, que não sei quando foi feito, mas lá era bom demais. Tinha um letreiro, assim que passava da entrada, com o nome do Clube. Inclusive, tinha até o “cantinho do namoro”, que era uma calçada que a gente se sentava e ficava olhando pra o mato, pra ali, onde hoje é a casa de Pão...o Clube já começou com umas festas enxeridas, vinha uns conjuntos de Caruaru e era muito bom. Já mais pra o fim, Baêta fez uns anos lá no Clube do Bangu, mas aí, não tinha a rivalidade que tinha na Festa de São Miguel...Na Festa de São Miguel é que a disputa era boa, principalmente por causa da política e cada Clube fazia uma festa maior que a outra, mas a do Diversional Cariri era melhor (Risos). Outra coisa interessante, é que na frente do Diversional Cariri tinha as barracas de comida e bebidas. Na época, as festas tinham um intervalo, porque só era uma banda, nesse momento os componentes iam fazer um lanche e o pessoal aproveitava para comer e beber nessas barracas. Lembro de Antônio Congo, Eraque e já por último Maurício do Ó.

Como as pessoas se preparavam para o São João?

            Na nossa Juventude, a gente se vestia normal, não tinha esse negócio de roupa xadrez, colocava a melhor que tinha, apesar que roupa nova e boa, só na Festa de Setembro (São Miguel). A gente farreava bem nos bares, aí surgia até umas quadrilhas, mas era coisa de antigamente, “Alavantú” e “Anarriê”, não era essas quadrilhas modernas, inclusive marquei umas, que os amigos chamava, até ali na frente do Bar de Cocó ou Ramiro, não lembro de quem já era na época. Era uma farra grande.

Esse era o clima na “rua”. E nos sítios?

            Eita, aí a festança era grande nessa região. Na verdade, tinha pouca gente na rua, porque, por toda essa redondeza as famílias grandes moravam no sítio. Quem tinha condição, mandava os filhos estudar na rua, ou até fora, em outras cidades, mas nesse tempo, tava todo mundo de volta, em casa. Daí, no tempo do São João era aquela festa, muita comida e os forrós de candeeiro. Aí Mané Benjamim, Biu Ardilino, tocaram muito. Zé Carlos, também, em uns tempos mais pra cá... Eram muitos bons os forrós e as fogueiras nos matos. Basicamente, os acompanhamentos eram a concertina, ou os 8 baixos, ou a sanfona, o violão, o pandeiro, a zabumba e o triângulo.

Enfim, qual o roteiro, onde as pessoas se divertiam no mês de junho nesta região de Barra de São Miguel?

            Na verdade, no Santo Antônio, cansei de ir para a Novena de Santo Antônio, nos Pinhões. Naquele tempo, era só a novena mesmo, mas todo mundo ia. Não tinha luz elétrica, por isso eram usados lampiões lá, pra iluminar. Tinha arrematação. Depois foi que começou uma banda de pife, que passava até pelas barracas, mas sem dança. Pra cá, foi que começou a ter forró. O São João, já disse, que tinha os forrós grandes nos sítios, nas casas das famílias grandes. Na rua também tinha no mercado e depois no Clube Diversional e, ainda um bocado de gente ia pra Riacho Fundo, lá era o padroeiro mesmo. O São Pedro era lá em Pedro Né, uma festa grande, porque também coincidia com o aniversário dele, daí ele fazia o São Pedro lá no Sítio Macaco.  A casa ficava tomada de gente.

    Em linhas gerais, essas foram as informações passadas pelo nosso entrevistado, o irreverente Manezim de Euclides. Vejamos uma imagem do mesmo e sua esposa, a professora Adeilda Canejo: 

Casal Manezim e Adeilda

     Agradecemos a disponibilidade e presteza de nosso entrevistado. Optamos por apresentar as memórias de Manezim de Euclides, como uma homenagem neste ano aos festejos juninos em nossa região. Reiteramos que muito ainda precisamos conhecer de nossas tradições e festejos, e a pesquisa histórica e biográfica pode nos apontar determinados conhecimentos importantes deste e outros períodos.

João Paulo França, 24 de junho de 2021

Fonte:

Informações e imagens: Manoel Gomes da Silva. Entrevista em 15 de junho de 2021.

Antônio Silvino em Serra dos Bois, após o ataque à Barra de São Miguel em 1907 (Série Cangaço - nº 4)

Na noite de 26 para 27 de janeiro de 1907, Antônio Silvino e seu bando executou um bem sucedido ataque à Vila de Barra de São Miguel, que à época era sede administrativa do município de Cabaceiras. Sem cerimônia e com astúcia, os cangaceiros fizeram o delegado Nicolau Vitalino Correia de Araújo refém e, ao atender sua voz, os demais soldados, em um total de quatro, foram rendidos e desarmados em suas residências. 

Sem reação, rumaram para a casa de Manoel Henrique do Nascimento Araujo, escrivão da Mesa de Rendas, órgão de cobrança de impostos da época, e saquearam os recursos da repartição, queimando em seguida os papeis oficiais. A ação prosseguiu com assalto aos comerciantes e moradores locais, nomeadamente, os senhores Cândido Casteliano dos Santos e Olyntho José de Vasconcelos. Ao final, "solicitaram e tomaram café", já na madrugada, na residência do sr. Manoel Melchiades Pereira Tejo, tabelião e político local.

Todavia, para onde teria se dirigido Antônio Silvino e o bando após este ataque? O Jornal Pequeno, de Recife, no dia 07 de fevereiro de 1907 nos diz:

"Antonio Silvino na Serra do Boi"

Temos notícias frescas sobre Antonio Silvino e seu grupo de cangaceiros.

Após haver incendiado, - ao seu ódio a tudo quanto cheira a impostos, - a Mesa de rendas do logar Barra de S. Miguel, 8 legoas distante de Taquaretinga, Silvino dirigio-se para o povoado denominado Serra do Boi, 3 ½ legoas apenas da Barra de S. Miguel.

Em Serra do Boi, Silvino mandou um recado a um alferes policia, de nome Menezes, o qual anda com uma força em seu encalço, dizendo-lhe que estava a sua espera naquele lugar.

Ao passo que mandava este recado, Silvino destruía em diversos pontos a linha telegráfica entre Bom Jardim e Taquaretinga.

O sr. Francisco Vieira de Assis, negociante nesse último logar, por este motivo ficou ante-hontem impedido de passar um telegrama para uma casa commercial nesta praça.

O sr. Amaro Coelho, negociante de Taquaretinga, ao voltar da feira de Gravatá, encontrou-se no caminho com o grupo de Silvino, recebendo algumas bordoadas e ficando com diversos objectos quebrados que comprara na feira."

Esta foi a notícia que nos mostra uma possível rota da fuga de Antônio Silvino e seu bando. A seguir, vejamos um cenário da comunidade de Serra dos Bois:

Casa que pertenceu a Ludugero da Cunha Porto- Arquivo pessoal

Situado na divisa estadual, o povoado de Serra dos Bois localiza-se no lado pernambucano da fronteira, já no município de Taquaritinga do Norte, que à época era designado apenas como "Taquaretinga". Ao norte do mesmo, temos o sítio Barrocas, já no atual território paraibano de Barra de São Miguel. 

O registro desta fotografia é do ano de 2016, com destaque para uma residência já existente no período da ação destacada pelo Jornal Pequeno, de 1907. Em relatos de moradores da região, o convívio e a passagem de cangaceiros, como Antônio Silvino, ainda é tema das conversas que os habitantes atuais escutaram de seus pais, avós e bisavós.

O advogado Antônio Martins de Farias, morador de Serra dos Bois, nos informa que a referida residência é uma das mais antigas da comunidade e era propriedade de seu bisavô, o sr. Ludugero da Cunha Porto, casado com a sra. Maria Zita de Jesus. Provavelmente, a edificação é dos anos finais da década de 1880, tendo em vista que uma das filhas do casal, "Lina", nasceu neste período. 

Prosseguindo, o sr. Antônio Martins de Farias, nos traz o interessante relato que, Ludugero da Cunha Porto, também era conhecido como "Padrinho Ludugero" e faleceu em 1913. Provavelmente, era um jovem letrado no período e que, após o advento da República, em 1889 e a instituição do casamento civil  no Brasil, logo procurou também registrar sua união com a sra. Maria Zita de Jesus no cartório. Ela, conhecida por "Mãe Zita", faleceu na década de 1960.

Em tempo, ressalto a importância dos dados apresentados, tendo em vista meu próprio envolvimento familiar com os personagens, pois, meu avô, João de França Pontes (1934-2008), filho de Amaro de França Pontes (1877-1954) e Francisca Ludgero da Cunha (1898-1990) era bisneto, pelo lado materno, do referido casal proprietário da residência que ilustra essa matéria aqui descrita. 

Avancemos, entrelaçando os conhecimentos históricos familiares, locais e regionais.

 João Paulo França, 16 de junho de 2021

Fonte:

Imagem de Arquivo pessoal

Informações do sr. Antônio Martins de Farias. 

Jornal A Republica, Natal, 13 de fevereiro de 1907. Ano 19, nº 33

Jornal Pequeno, Recife, quarta-feira, 06 de fevereiro de 1907. Ano 9, nº 30.

 

Leia também: 

Antônio Silvino em Gravatá de Jaburu, Tanque Raso e Riacho de Santo Antônio (Série Cangaço nº 3)