Na noite de 26 para 27 de janeiro de 1907, Antônio Silvino e seu bando executou um bem sucedido ataque à Vila de Barra de São Miguel, que à época era sede administrativa do município de Cabaceiras. Sem cerimônia e com astúcia, os cangaceiros fizeram o delegado Nicolau Vitalino Correia de Araújo refém e, ao atender sua voz, os demais soldados, em um total de quatro, foram rendidos e desarmados em suas residências.
Sem reação, rumaram para a casa de Manoel Henrique do Nascimento Araujo, escrivão da Mesa de Rendas, órgão de cobrança de impostos da época, e saquearam os recursos da repartição, queimando em seguida os papeis oficiais. A ação prosseguiu com assalto aos comerciantes e moradores locais, nomeadamente, os senhores Cândido Casteliano dos Santos e Olyntho José de Vasconcelos. Ao final, "solicitaram e tomaram café", já na madrugada, na residência do sr. Manoel Melchiades Pereira Tejo, tabelião e político local.
Todavia, para onde teria se dirigido Antônio Silvino e o bando após este ataque? O Jornal Pequeno, de Recife, no dia 07 de fevereiro de 1907 nos diz:
"Antonio Silvino na Serra do Boi"
Temos notícias frescas sobre Antonio Silvino e seu grupo de cangaceiros.
Após haver incendiado, - ao seu ódio a tudo quanto cheira a impostos, - a Mesa de rendas do logar Barra de S. Miguel, 8 legoas distante de Taquaretinga, Silvino dirigio-se para o povoado denominado Serra do Boi, 3 ½ legoas apenas da Barra de S. Miguel.
Em Serra do Boi, Silvino mandou um recado a um alferes policia, de nome Menezes, o qual anda com uma força em seu encalço, dizendo-lhe que estava a sua espera naquele lugar.
Ao passo que mandava este recado, Silvino destruía em diversos pontos a linha telegráfica entre Bom Jardim e Taquaretinga.
O sr. Francisco Vieira de Assis, negociante nesse último logar, por este motivo ficou ante-hontem impedido de passar um telegrama para uma casa commercial nesta praça.
O sr. Amaro Coelho, negociante de Taquaretinga, ao voltar da feira de Gravatá, encontrou-se no caminho com o grupo de Silvino, recebendo algumas bordoadas e ficando com diversos objectos quebrados que comprara na feira."
Esta foi a notícia que nos mostra uma possível rota da fuga de Antônio Silvino e seu bando. A seguir, vejamos um cenário da comunidade de Serra dos Bois:
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Casa que pertenceu a Ludugero da Cunha Porto- Arquivo pessoal |
Situado na divisa estadual, o povoado de Serra dos Bois localiza-se no lado pernambucano da fronteira, já no município de Taquaritinga do Norte, que à época era designado apenas como "Taquaretinga". Ao norte do mesmo, temos o sítio Barrocas, já no atual território paraibano de Barra de São Miguel.
O registro desta fotografia é do ano de 2016, com destaque para uma residência já existente no período da ação destacada pelo Jornal Pequeno, de 1907. Em relatos de moradores da região, o convívio e a passagem de cangaceiros, como Antônio Silvino, ainda é tema das conversas que os habitantes atuais escutaram de seus pais, avós e bisavós.
O advogado Antônio Martins de Farias, morador de Serra dos Bois, nos informa que a referida residência é uma das mais antigas da comunidade e era propriedade de seu bisavô, o sr. Ludugero da Cunha Porto, casado com a sra. Maria Zita de Jesus. Provavelmente, a edificação é dos anos finais da década de 1880, tendo em vista que uma das filhas do casal, "Lina", nasceu neste período.
Prosseguindo,
o sr. Antônio Martins de Farias, nos traz o interessante relato que,
Ludugero da Cunha Porto, também era conhecido como "Padrinho Ludugero" e
faleceu em 1913. Provavelmente, era um jovem letrado no período e que,
após o advento da República, em 1889 e a instituição do casamento civil
no Brasil, logo procurou também registrar sua união com a sra. Maria
Zita de Jesus no cartório. Ela, conhecida por "Mãe Zita", faleceu na
década de 1960.
Em tempo, ressalto a importância dos dados apresentados, tendo em vista meu próprio envolvimento familiar com os personagens, pois, meu avô, João de França Pontes (1934-2008), filho de Amaro de França Pontes (1877-1954) e Francisca Ludgero da Cunha (1898-1990) era bisneto, pelo lado materno, do referido casal proprietário da residência que ilustra essa matéria aqui descrita.
Avancemos, entrelaçando os conhecimentos históricos familiares, locais e regionais.
João Paulo França, 16 de junho de 2021
Fonte:
Imagem de Arquivo pessoal
Informações do sr. Antônio Martins de Farias.
Jornal A Republica, Natal, 13 de fevereiro de 1907. Ano 19, nº 33
Jornal Pequeno, Recife, quarta-feira, 06 de fevereiro de 1907. Ano 9, nº 30.
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