O registro mais antigo
que encontramos acerca da educação de Barra de São Miguel remonta
ainda ao período imperial no Brasil. O jornal O Publicador[1] informa que “O
vice-presidente da província, em vista da proposta da diretoria da instrução
publica, resolve nomear (...) para reger interinamente a cadeira de primeiras
letras do sexo masculino” a “Ignácio Pereira Brandão para a povoação da Barra
de S. Miguel do termo de Bodocongó. Remeteu-se a instrução pública, e
comunicou-se ao tesouro provincial”. Este foi um ato de 25 de outubro de 1865.
Em 27 de fevereiro de 1866 o secretário de governo envia ofício ao diretor de
instrução pública, em que dá conhecimento “acerca dos professores interinos das
cadeiras do ensino primário novamente criadas nas povoações de – Caraúba – e da
Barra de S. Miguel”[2].
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Imagem 1 - Professor nomeado para Barra de S. Miguel, em 1865. |
Em um tempo de
comunicações lentas entre as instituições imperiais, encontramos apenas em abril
de 1866 a informação que, por meio do ofício “nº 107 de 10 do corrente do qual
consta ter o professor interino da cadeira de primeiras letras da povoação da
Barra de São Miguel no município de Bodocongó, Ignácio Pereira de Brandão
assumido o respectivo exercício em data de 10 de fevereiro último”[3]
As informações que as
fontes históricas nos apresentam, em especial os jornais de época, nos mostram
características importante da educação do período: inicialmente, por ser um
povoado do interior, Barra de São Miguel tem uma população diminuta, o que
certamente fazia com que as autoridades não enxergassem tal lugar como
prioritário em suas políticas públicas. Mesmo assim, vale destacar que o “vice-presidente
da província, sob a orientação da diretoria de ensino” acabara de autorizar o
funcionamento de uma “cadeira de primeiras letras do sexo masculino” na
povoação, inclusive, com os recursos para tal fim vindos do “tesouro estadual”.
Ressalte-se que, apesar do avanço da propositura, a mesma não deixa de nos
mostrar a forma como a educação do período era pensada: para o sexo masculino
e, em virtude de ser uma povoação interiorana, uma cadeira de “primeiras
letras” apenas.
Quanto a organização da educação,
encontramos no ano de 1867 o mesmo jornal O
Publicador nos informar que “o vice-presidente da província, sob proposta
do diretor interino da instrução pública resolve nomear para comissionário da mesma
instrução na povoação da Barra de São Miguel do termo de Bodocongó o cidadão Antônio
Alves Monteiro” [4].
Assim, além do professor da cadeira, encontramos também o cargo de
“comissionário” envolvido com a educação local.
Ainda
quanto a organização da educação no século XIX em Barra de São Miguel, encontramos
no ano de 1868 a informação que estava aberto Edital de concurso para a cadeira
de ensino primário do sexo masculino na povoação. Vejamos:

Os pretendentes ás referidas
cadeiras devem habilitar-se perante a presidência no prazo de 60 dias, a contar
da data deste, instruindo suas petições com os documentos de que tratão os
arts. 47 e 48 do regulamento de 11 de março de 1852.
E para que chegue ao conhecimento
dos interessados se mandou afixar o presente no lugar do costume, e publicar
pela imprensa.
Secretaria da instrução publica da
Parahyba em 10 de outubro de 1868.
O secretario Carlos A. Monteiro da
Franca[5]. (Grifo nosso)
Este mesmo edital foi
reproduzido em cinco edições do jornal O
Publicador. Nos chama a atenção que outras vilas do estado, a exemplo do
Pilar, Ingá e Alagoa Grande havia vagas abertas para a cadeira do sexo
feminino, enquanto que para Barra de São Miguel e outros lugares citados, a
vaga é para a cadeira do ensino primário do sexo masculino. É importante
destacar que os interessados nas vagas têm o prazo de 60 dias para manifestar
interesse e apresentar a documentação solicitada em regulamento do ano de 1852.
Infelizmente não temos a
informação acerca da procura para a vaga de Barra de São Miguel no edital,
todavia, o mesmo jornal O Publicador
de 30 de março de 1869 informa que o “presidente da província, atendendo ao que
requereu o professor público do ensino primário da Barra de S. Miguel Pedro
Tavares de Macedo, resolve conceder-lhe três meses de licença com vencimento
para tratar de saúde, onde lhe convier”[6]. Este jornal acaba por nos
dar uma pista acerca da ocupação da cadeira primária barrense.
Já no período republicano
encontramos o jornal Gazeta da Parahyba
que traz o expediente com os “Actos do Governo” de 24 de janeiro de 1890. No
mesmo consta a informação acerca da exoneração do professor Alexandrino José de
Almeida. Neste mesmo expediente é nomeado Galdino Alves da Silva para
substituí-lo[7].
Este seria removido para a Vila de Santa Rita pouco tempo depois, em ato do
Governo de 21 de abril de 1890[8]. Não encontramos
informação acerca de sua substituição.

Pelo
caminho desta pesquisa histórica que percorremos até aqui,
percebemos que a educação em Barra de São Miguel em seus primórdios no século
XIX basicamente se resumia ao ensino das primeiras letras ao sexo masculino. A
documentação de época nos mostra uma certa rotatividade na única cadeira de
professor da povoação que era paga com recursos do tesouro estadual. Apesar da
mudança de regime político, da monarquia para a república, ocorrido em 1889,
não vemos uma mudança significativa na concepção de educação, onde continuava a
falta de estrutura própria e a segregação por sexo.
João Paulo França, 30 de junho de 2017. Republicado em 24 de março de 2021.
Fontes:
[1] Jornal O Publicador, Ano IV, 28 de outubro de 1865, número 945, p.2.
[2] Jornal O Publicador, Ano V, 02 de março de 1866, número 1043, p.2.
[3] Jornal O Publicador, Ano V, 16 de abril de 1866, número 1079, p. 1.
[4] Jornal O Publicador, Ano VI, 20 de agosto de 1867, número 1476, p. 1.
[5] Jornal O Publicador, Ano VII, 15 de outubro de 1868, número 1823, p. 4
[6] Jornal O Publicador, Ano VIII, 30 de março de 1869, número 1949, p.2.
[7] Jornal Gazeta da Parahyba, Ano III, 28 de janeiro de 1890, número 499, p.
1
[8] Jornal Gazeta da Parahyba, Ano III, 29 de abril de 1890, número 572, p.1.
[9] Publicação do Almanak do Estado da Parahyba de 1899. Organizado por José
Francisco de Moura. João Pessoa: Imprensa Oficial, p. 378
[10] Em entrevista com a professora
aposentada Maria do Socorro da Costa Gomes, a mesma nos informa que o mesmo
seria também conhecido como professor “Tó”, que ensinava as crianças em sua
própria casa.