Antônio Silvino em Gravatá de Jaburu, Tanque Raso e Riacho de Santo Antônio (Série Cangaço nº 3)

Nossa série sobre as passagens do bando de Antônio Silvino por Barra de São Miguel e suas adjacências, segue com uma interessante notícia que narra atividades do cangaceiro nas localidades de Gravatá de Jaburu, atual Gravatá de Ibiapina, no território pernambucano, além de Tanque Raso e Riacho de Santo Antônio na Paraíba, tudo isto no ano de 1905. 

Vejamos os relatos do Jornal A Província, de Recife:

ANTONIO SILVINO

Está residindo em Gravatá de Jaburú ou descançando um pouco de suas viagens o celebre capitão Antônio Silvino, capitão de numerosa quadrilha de gatunos e de assassinos.

Gravatá de Jaburú pertence ao município de Taquaretinga, o que prova as sympathias de Antonio Silvino pelas terras de Pernambuco e vizinhanças da Parahyba e de outros logares onde as autoridades policiaes fornecem-lhe cavalos e armas, munições e banquetes e auxiliam gentilmente a colheita dos saques, como em Surubim, Queimadas, S. Vicente e outros pontos de recreio do bando.

Erguem-se em Pernambuco as sete quintas do poderoso salteador que há oito annos afronta a liga de dois governos contra o seu grupo de bandidos, hontem de três ou quatro e hoje de dez ou doze e amanha de cincoenta ou cem.

As ultimas noticias nos informam do assalto á casa de uma viúva e do roubo de joias e dinheiro de importância de mais de quatro contos de réis.

Antonio Silvino e seus parceiros demoraram-se três dias numa fazenda no logar Tanque-fundo, Barra de S. Miguel, estado da Parahyba. Ahi exigiram do dono da propriedade um conto de rés em paga da honra da hospedagem. Recebendo apenas 600$000 esperou que o fazendeiro vendesse alguns bois para inteirar a somma fixada.

Um dos assassinos e ladrões da quadrilha, não sabemos porque motivos – a carta de nosso informante não explica – incorreu no ódio de Antonio Silvino e foi, para exemplo dos outros, cruelmente fuzilado quando ainda o ‘capitão’ se achava em Tanque Raso.

Executada a pena de morte, os bandidos enterraram, com a maior solenidade, o cadáver do criminoso no cemitério da capella de Santo Antonio.

Em perseguição de Antonio Silvino, por ordem do governo da Parahyba, existia nas imediações de Tanque Raso uma força de sete praças, que ao se inteirar dessa e de outras ocorrências tomou o alvitre cauteloso de encaminhar-se para Cabaceiras e Campina Grande, pontos diametralmente opostos ao referido logarejo.

Sahindo de Tanque Raso, Antonio Silvino e a sua comitiva dirigiram-se para Taquaretinga, e em Gravatá de Jaburu o ‘capitã’ trata de escolher outro pouso de igual segurança.

Nazareth? Bom Jardim? Timbaúba?

Não sabe ainda... Elle e os outros ficam tão a commode nesses municípios que vacilam na escolha para não causarem ciúmes ou desgostos.

<... Peçam providencias, denunciem o homizio de Antonio Silvino...>

Quem nos escreveu a carta de Taquaretinga, sem duvida ignora que nós nos extenuamos a fazer essas cousas há muitos anos e até hontem nada ainda conseguimos.

Há poucos dias um subdelegado hospedou Antonio Silvino e mais uma dúzia de cangaceiros, deu-lhes cavalos, auxiliou-os nas extorsões de dinheiro e continua no cargo, prestando desses e de outros serviços á politica que felizmente nos governa.

Resigne-se o nosso missivista: se a quadrilha de Antonio Silvino bater-lhe a porta despeje os bolsos e a gaveta e depois morra de um tiro ou de dez facadas.

A policia de Pernambuco e a policia da Parahyba não marcham ás nossas ordens nem ás ordens dos que vivem em continuo sobresalto a receitar as visitas de celebre ‘capitão’."

O relato é bastante minucioso e cita não só os locais de passagem e moradia do bando, como aponta para as proteções e "acoitamentos" que o mesmo recebia na região. Apreciemos uma visão geral de Tanque Raso:

Vista da região do Povoado de Tanque Raso

Inserimos esta visão a partir do Google Maps, para indicar a proximidade e divisa que os atuais municípios de Riacho de Santo Antônio e Barra de São Miguel fazem nesta região paraibana que à época pertenciam ao município de Cabaceiras. Por sua vez, a localidade fica a poucos quilômetros do atual Distrito de Gravatá de Ibiapina, já em Taquaritinga do Norte, Pernambuco. Em 1905, ainda era conhecido por Gravatá de Jaburu, um nome que remetia a um riacho local. Tendo em vista as obras sociais do Padre Ibiapina, no século XIX na localidade, o poder público renomeou o distrito, homenageando o referido religioso.

João Paulo França, 07 de junho de 2021

Fonte:

A PROVÍNCIA. Recife, sábado 18 de novembro de 1905. Ano 28, nº 260, p. 1.
Google Maps. Print de imagem com adaptação da localidade de Tanque Raso.  
 
LEIA TAMBÉM:
 

Antônio Silvino nos Sítios Melancia, Jacques e Pará, no ano de 1907 (Série Cangaço - nº2)

Prosseguindo nossa série sobre as passagens do bando de Antônio Silvino por Barra de São Miguel e suas adjacências, vejamos uma interessante nota que narra a passagem do cangaceiro nas fazendas Melancia, no atual território barrense; na fazenda Jacques, divisa contemporânea com o município de Caraúbas; e na "fazenda" Pará, no atual território pernambucano de Santa Cruz do Capibaribe, tudo isto no ano de 1907.

Vejamos o relato do Jornal Pequeno, de Recife:

Antonio Silvino

Escrevem-nos:

No encontro que Antonio Silvino teve com a força federal, comandada pelo sargento Ferreira, nas proximidades do povoado Queimadas de Campina Grande, recebeu o bandido, pequeno ferimento, correndo para a fazenda Melancia do major Aurelio da Barra de São Miguel, onde demorou-se três dias; dali refugiou-se na fazendaJaques’ de Pedro de Sant’Anna, quatro ou cinco léguas ao sul da fazenda ‘Melancia’; ali passando cinco dias seguindo para a fazenda Pará, três léguas acima, onde recebeu uma carta do capitão Joca de Jundiahy de Bom Jardim, dizendo-lhe que o amigo procurasse guardar-se até que o Sigismundo se retirasse do Governo, para então voltar a Bom Jardim e se executar o que já haviam combinado.

Na fazenda Pará, Antonio Silvino teve noticias do comboio de mercadorias do sr. Lucas Donato e pouco teve que se demorar para comsumar o atentado que cometeu contra a propriedade do mesmo sr. Lucas e do qual já todos os jornaes deram noticia.

Consumado o atentado acima falado, Antonio Silvino seguio para a Serra da Colonia, no Pajeú, terra de seu nascimento e de sua familia.

Este foi o relato descrito no periódico pernambucano "Jornal Pequeno". Sobre imagens dos locais dessa ação, reproduzimos a seguir uma fotografia do tempo presente, para ilustrar essa matéria:

Sede do Assentamento Bom Jesus - Barra de São Miguel

Auxiliado pelo sr. Murilo Corrêa de Araújo, o mesmo nos informa de maneira oral que a fazenda do "major Aurélio", citada na matéria, ficava perto da fazenda do seu avô, no sítio Melancia, sendo onde funciona atualmente o assentamento Bom Jesus, que fora antes de propriedade do sr. Chico Costa. 

Uma ressalva feita pelo sr. Murilo é que seu pai nunca fez referência que Antônio Silvino pernoitou nesta fazenda onde hoje é o assentamento, ou mesmo nas terras de seu avô, no sítio Melancia, tendo passado pelas imediações e que, apenas alguns dos cabras teriam ido por lá, pedir dinheiro.

Todavia, tendo em vista que seu pai era uma criança de 04 anos na época dos fatos, em 1907, é provável que soubesse apenas de histórias contadas pelos mais idosos que viveram na época, que podem ter silenciado sobre muitos fatos vivenciados no cotidiano.

João Paulo França, 31 de maio de 2021

ATUALIZAÇÃO em 07 de junho de 2021:

Como mencionado na matéria do Jornal Pequeno de 05 de julho de 1907, o bando de Antônio Silvino também passou pela fazenda Jacques, citada como de propriedade de "Pedro de Sant'Anna". Para termos noção visual desta localidade, dispomos a seguir de acervo e das informações enviadas pelo colaborador e familiar de Pedro Santana, o jornalista Eduardo Belo Barbosa Júnior. Vejamos:

Primeira casa da comunidade do Jacques - Acervo: Jornalista Eduardo Belo

Segundo o jornalista Eduardo Belo, essa é a primeira casa da Fazenda Jacques, logo, foi o local onde Antônio Silvino fez pousada em suas passagens pela propriedade. Ressalte-se que esta era a residência dos irmãos, Francisca, Fausto e Jóia, que posteriormente, passou a ser morada do seu avô, Oscar Cavalcante Neves, que era sobrinho dos três irmãos mencionados e filho de João Pedro de Santana. 

A seguir, mais uma residência da localidade:

Residência de João Pedro de Santana. Acervo: Jornalista Eduardo Belo
 Prosseguindo com o conhecimento das casas mais antigas da comunidade do Jacques, temos nesta imagem a residência do sr. João Pedro de Santana, bisavô de Eduardo Belo. Ressalte-se que as fotografias são do tempo presente, porém, muito importante para compreendermos os estilos de construção e fachadas que foram preservadas nestas casas.

Por fim, vejamos mais uma residência do sítio Jacques:

Residência de 'Zé Pedro'. Acervo: Jornalista Eduardo Belo.
A casa apresentada nesta última imagem, era a residência do sr. "Ze Pedro", irmão de João Pedro de Santana. Destaque-se que as sólidas construções apresentadas são as três residências mais antigas do sítio Jaques, nomeado à época, 1907, apenas de Fazenda Jacques. 

Agradecemos a inestimável contribuição do jornalista Eduardo Belo Barbosa Júnior, ao mesmo tempo que saudamos os familiares e descendentes dos pioneiros da comunidade do Jacques, que fica na divisa entre Barra de São Miguel e Caraúbas, por preservar e conservar seu patrimônio histórico e arquitetônico.

João Paulo França, 07 de junho de 2021.

Fonte:

JORNAL Pequeno. Recife, sexta-feira, 05 de julho de 1907. Ano 9, nº 149, p. 2.

Informações do sr. Murilo Corrêa de Araújo.

Informações e acervo de Eduardo Belo Barbosa Júnior.

Leia Também:

Passagens de Antônio Silvino em Barra de São Miguel e adjacências no início do século XX (Série Cangaço - nº1)

 

Passagens de Antônio Silvino em Barra de São Miguel e adjacências no início do século XX (Série Cangaço - nº1)

Ao longo da história, pouco se divulgou sobre as passagens de cangaceiros, em especial, do bando de Antônio Silvino, pela região de Barra de São Miguel e suas adjacências, no início do século do século XX.

Muito bem documentado é o ataque da noite do dia 26 para 27 de janeiro de 1907, como podemos observar em matérias já publicadas neste site. Todavia, ainda se faz necessário falar sobre outras estadias e ações do bando pelas fazendas, povoados e vilas próximas a Barra de São Miguel. 

A seguir, a partir de nossas pesquisas até esta data, apresentamos uma construção histórica do tempo presente, um mapa, com nomes de localidades por onde encontramos rastros nos jornais de época, com a indicação de ações dos cangaceiros na região.

Figura 1: Mapa de Ação do Cangaço em Barra de São Miguel e adjacências





Elaboração: Ellori Mota (ArcGIS 10.3)




Esta bela composição foi elaborada pela professora Ellori Mota, a partir de apontamentos de nomes e localidades que encontramos nas fontes de pesquisa (jornais do início do século XX, dispostos na Hemeroteca da Biblioteca Nacional).

Iniciamos por esta visão espacial, a nova série de matérias que vamos divulgar ao longo das semanas seguintes aqui no Portal de Memórias de Barra de São Miguel. Aguardem.

João Paulo França, 11 de maio de 2021.

Está ansioso? Se desejar, relembre essa matéria:

1907 - O ataque do cangaceiro Antônio Silvino a Barra de São Miguel - PB