1897 - Criação da "Mesa de Rendas" de Barra de São Miguel - PB


A posição geográfica de Barra de São Miguel foi um dos fatores importantes para a atenção dos governantes estaduais. Apesar de ser uma pequena vila na divisa dos estados da Paraíba e Pernambuco, a mesma era local de passagem de mercadorias do sertão pernambucano, do Pajeú para a capital, Recife e vice-versa. Neste sentido, nos jornais de época encontramos na última década do século XIX várias menções aos coletores de impostos na região. Desta forma, não é de se estranhar o aperfeiçoamento do sistema tributário, com a criação da “Mesa de Rendas”, uma espécie de Posto Fiscal da época. Esta ação se deu por meio do Decreto Estadual nº 87, de 12 de janeiro de 1897, como podemos ver na coluna à esquerda do jornal A União de 16 de janeiro de 1897.

Jornal a A União

 Destacamos as seguintes informações:
 
Decreto nº 87, de 12 de janeiro de 1897
Cria uma Mesa de Rendas na povoação da Barra de São Miguel da Comarca de S. João do Cariry.

O Bacharel Antônio Alfredo da Gama e Mello, Presidente do Estado da Parahyba, (...) Decreta:

Art. 1º. Fica creada uma Mesa de Rendas na povoação da Barra de São Miguel da comarca de São João do cariry, que compreenderá as estações de Natuba, Umbuseiro, Matta Virgem, Bodocongó e outros pontos que forem necessários.

Art. 2º (...)

§ 1º. O seu pessoal se comporá de um Administrador, um Escrivão e um Guarda, que serão empregados do Thesouro designados pelo Inspector.
(...)
Palácio do Governo do  Estado da Parahyba, em 12 de janeiro de 1897, 9º ano da proclamação da República.  
Antônio Alfredo da Gama e Mello.” (Jornal A União, 16 de janeiro de 1897, Ano V, nº 992, p. 1)
 


Por meio desta Mesa de Rendas, podemos ter ideia dos produtos que circulavam em maior quantidade no fim do século XIX e início do século XX em Barra de São Miguel.

Vejamos:

Tabela adaptada a partir do Almanak do Estado da Paraíba de 1899.

Como podemos observar, o algodão e o gado eram os principais produtos taxados na região, porém outros itens, como produtos de couros, açúcar, fumo, etc. também tinham participação na arrecadação local.


João Paulo França, 19 de fevereiro de 2018.


Fonte:
Jornal A União, 16 de janeiro de 1897, Ano V, nº 992, p. 1
Almanak do Estado da Parahyba de 1899, organizado por José Francisco de Moura. Parahyba do Norte: Imprensa Oficial, 1899. Adaptado de Tabelas distintas entre as páginas 128 e 129

 


1944 - Invasão à Vila de Barra de São Miguel - PB


Anos 1940... em um período onde muitas das contendas eram resolvidas na "bala", encontramos uma interessante passagem da história de Barra de São Miguel - PB. No Diário de Pernambuco de 08 de fevereiro de 1945 vemos o relato de uma invasão à Vila, ocorrida no ano de 1944, por parte do Coletor estadual de Taquaritinga do Norte-PE. Inicialmente, vejamos um aspecto possível do cenário desta trama.


Imagem 1 - Aspecto de Barra de São Miguel entre as décadas de 1940 e 1950
Como podemos observar, a tranquilidade da Vila, com suas poucas casas foi quebrado com os tiros disparados pelo coletor de Taquaritinga do Norte, José Alves Medeiros. Vejamos o recorte do Diário de Pernambuco com esta história:

Diário de Pernambuco - 08 de fevereiro de 1945
Vejamos a transcrição da notícia:

"Carta Precatória – O juiz de direito de Cabaceiras, na Paraíba, deprecou o juízo de direito da 3ª vara da Capital, afim de intimar José Alves de Medeiros, coletor estadual de Taquaritinga do Norte, residente à rua Direita nº 345, a comparecer no dia 28 de março próximo, ás 14 horas, na sala das audiências daquela cidade paraibana. Nessa ocasião deverá o mesmo ser interrogado e intimado a assistir o início de instrução criminal do processo instaurado contra a sua pessoa.

Na precatória em apreço consta uma cópia da denuncia apresentada pelo adjunto do promotor da comarca.

Disse o órgão da Justiça que o denunciado José Alves de Medeiros, na noite de 8 de agosto do ano passado, acompanhado de soldados do destacamento de Taquaritinga penetrou na vila de São Miguel, sob o pretexto de fiscalização da proibição de entrada de café procedente de Pernambuco, cometeu desordens, pondo a vila em intranquilidade, aos disparos de arma de fogo em plena rua.

Violentamente, depois das 24 horas, bateu á porta do posto fiscal e sendo a mesma aberta pelo agente fiscal, Lindolfo Oliveira Campos, o denunciado de revolver em punho tratou grosseiramente o aludido fiscal, submetendo-o a varias exigências.

Em consequência dos disparos de arma de fogo, a esposa do sr. Ramiro Pinto, pensando tratar-se de cangaceiros, assustada deu á luz antes do tempo.

O promotor depois de varias considerações, declarou que o denunciado praticara os seguintes crimes: disparo de arma de fogo, constrangimento ilegal do agente e aborto provocado".


Como podemos observar, sob o pretexto de fiscalizar a proibição da entrada do café procedente de Pernambuco, o coletor de Taquaritinga do Norte juntou um destacamento de soldados e invadiu, após às 24 horas do dia 08 de agosto de 1944, a Vila de Barra de São Miguel.  
Pelo relato, vemos que houve disparos de armas de fogo na rua e o ataque ao posto fiscal. Em virtude de tais acontecimentos, "a esposa do sr. Ramiro Pinto, pensando tratar-se de cangaceiros, assustada deu a luz antes do tempo". 
Com certeza estes acontecimentos foram discutidos na pequena vila, além de povoar o imaginário local por muito tempo. Interessante que ao dialogar com algumas pessoas idosas da comunidade, as mesmas contam com estes detalhes da matéria tal evento, porém, os atribuindo ao cangaceiro Antônio Silvino e seu bando. Todavia, é importante lembrar que o ataque à Vila e a Mesa de Rendas por parte do referido cangaceiro se deu na primeira década do século XX, o que tornaria impossível aos nascidos a partir de 1900 terem visto in loco tal história (nada impede dos mesmos conhecerem a história da invasão da vila por Antônio Silvino por intermédio das memórias contadas pelos pais e avós). Desta forma, cremos que este evento de 1944 estaria mais próximo de ter sido vivenciado pelos moradores locais nascidos no início do século XX, antes da década de 1930. Continuemos investigando.

João Paulo França, 14 de fevereiro de 2018
Fonte:

Diário de Pernambuco, 08 de fevereiro de 1945, Ano 120, nº 32, p. 5.

É carnaval em Barra de São Miguel-PB !!!


"Ó abre alas, que eu quero passar, eu sou da lira não posso negar" (Chiquinha Gonzaga - 1889) .... "Oh jardineira, por que estás tão triste... mas o que foi que te aconteceu? (Benedito Lacerda e Humberto Porto - 1939) ... "Bandeira branca, amor, não posso mais, pela saudade, que me invade eu peço paz" (Max Nunes e Laércio Alves - 1970) ... músicas de tempos e carnavais diferentes que dezenas de gerações entoam pelo Brasil, e que não é diferente em Barra de São Miguel - PB. 
Ao longo dos anos, no período carnavalesco, de diferentes formas os barrenses se encontram e se confraternizam. Vejamos uma bela imagem de um grupo local, pousados para a fotografia próximos à instrumentos musicais de orquestra:

Fotografia 1 - Grupo em imagem panorâmica
Para melhor visualizarmos os animados foliões, ampliamos a imagem em duas direções, iniciemos pelo lado esquerdo:

Ampliação do lado esquerdo da fotografia 1
Nesta imagem vemos inicialmente o Sr. Otacilio (primeiro homem sem camisa à esquerda), conhecido folião local. Ao lado do mesmo está a Sra. Zuleuza e o Sr. Pedrosinha, seu esposo. Por fim, vejamos os detalhes dos foliões do lado direito da fotografia 1:

Ampliação do lado direito da fotografia 1
Com certeza, diferentes personalidades locais estão presentes nesta bela imagem. Nos auxilie a identificá-las. Entre os foliões, vemos o Sr. Pedrinho Pedrosa e sua esposa.

Como nosso site sempre busca registrar as histórias locais e sua relação com os acontecimentos gerais, segue um breve resumo acerca da história do carnaval, escrita por  Anísio Renato de Andrade:

O Carnaval: sua origem e significado

A origem do Carnaval é um pouco obscura. Há quem afirme que a mesma esteja relacionada às homenagens à deusa Ísis no Egito, por volta do ano 4000 a.C. Porém, é mais concreta a ligação com as festas gregas ao deus Dionísio em 600 a.C. e às festas romanas ao deus Baco (deus do vinho), chamadas bacanais. Eram festas pagãs, incluindo orgias que se faziam em homenagem aos deuses como agradecimento pelas colheitas. Eram realizadas procissões que, com o tempo, se transformaram nos desfiles que conhecemos.


ORIGEM   

No ano 590 d.C., o papa Gregório incorporou o Carnaval ao calendário das festas cristãs. Sabendo que a Quaresma é um período de quarenta dias de jejum e santificação entre a quarta-feira de cinzas e a páscoa, o Carnaval foi oficializado como uma festa que se realiza antes da Quaresma. Devido ao fato de que, no período seguinte, o católico não poderia comer carne, tudo seria consumido nos dias antecedentes, mesmo porque não existiam geladeiras para que pudessem guardá-la. Então, era uma espécie de “despedida da carne”. Em latim, a festa era chamada “carne vale”, que significa “adeus à carne”.

As pessoas comiam carne até vomitar e bebiam até cair. Antes da santificação da Quaresma, as pessoas se entregavam também à liberação geral dos costumes, cometendo todo tipo de pecados, principalmente sexuais.

Na Quarta-Feira de Cinzas, os fiéis iam à igreja católica (e muitos ainda vão) para receberem um pouco de cinza na testa, enquanto ouviam o padre dizer em latim: “Memento homo, quia pulvis es, et in pulverem reverteris”  (Lembra-te homem, que tu és pó e ao pó voltarás).



MODIFICAÇÕES E DIVERSIDADE – Influências italianas e francesas

Com o passar do tempo, o Carnaval foi modificado e incrementado por contribuições de vários países, principalmente da Itália e da França. Jogos, brincadeiras, músicas, danças, fantasias, uso de máscaras e carros alegóricos foram acrescentados à festa.  Na idade média surgiu o costume da inversão de papéis sociais durante o Carnaval. Os nobres se vestiam de pobres e os pobres se vestiam de ricos. Entre os pobres era eleito um rei, que seria morto ao final dos festejos. Assim surgiu o rei momo.  Entre as inversões do período, muitos homens se vestiam de mulheres.


O ESTRUDO

Em Portugal, a festa recebeu o nome de estrudo. Essa palavra vem da denominação de bonecos gigantes. Durante o estrudo, as pessoas com boa condição financeira jogavam água com perfume umas nas outras. Os mais pobres jogavam água suja, urina, água com fezes, ovos podres, laranjas podres, restos de comida, etc. Com o passar do tempo, tornou-se comum a ocorrência de violência sexual durante aqueles dias.


CARNAVAL NO BRASIL

Os portugueses trouxeram o Carnaval para o Brasil no século 16. Aqui, os festejos foram incrementados com o samba, o frevo, o maracatu e, recentemente, com o axé e o funk.  Embora não seja uma festa originalmente brasileira, o Brasil o abraçou e o adotou de tal forma, que hoje é conhecido como “o país do Carnaval”. A festa tornou-se uma das principais atrações turísticas da nação, movimentando uma indústria milionária todos os anos.

Sigamos brincando e construindo novas histórias de carnavais, sem perder nossas raízes culturais e históricas.
João Paulo França, 09 de fevereiro de 2018

Fonte:

Acervo e informações de José Clemilton Truta 
Site: lagoinha.com. "Carnaval: sua origem e significado". Disponível em: http://www.lagoinha.com/ibl-vida-crista/o-carnaval-sua-origem-e-significado/ . Acesso em 09 de fevereiro de 2018.
Site: toda materia.com. "Chiquinha Gonzaga". Disponível em: https://www.todamateria.com.br/chiquinha-gonzaga/. Acesso em 09 de fevereiro de 2018
Site: Glaydson Lammarck" A história de uma mulher e sua Bandeira branca ( Dalva de Oliveira)". Disponível em: http://glaydsonlammarck.blogspot.com.br/2011/05/historia-de-uma-mulher-e-sua-bandeira.html. Acesso em 09 de fevereiro de 2018.
Site: GGN. "A autoria de Jardineira. Disponível em: tps://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/a-autoria-de-a-jardineira. Acesso em 09 de fevereiro de 2018.