"Emquanto o viajante pára contemplando
aquella admirável creação da natureza, ella, do cimo elevadíssimo da rocha de
granito, qual esfinge egypcia, parece cheia de vida alçar o collo e o olhar
embeber demoradamente na curva longínqua do rio". F. Cavalcanti (Cabaceiras –
Parahyba)
Esta descrição da "Pedra da Pata" feita por Faustino Cavalcanti está no Almanak Litterario e Estatistico do Rio Grande do Sul, do ano de 1902.
Nesta matéria voltamos nossa atenção para uma das Comunidades mais antigas da região e que ainda há muito por conhecer de seu passado. Trata-se da comunidade da Pata. A seguir, vejamos uma imagem atual deste povoado:
Fotografia 1 - Comunidade da Pata - Vista frontal - 28 de março de 2017 |
Esta é a visão frontal da Comunidade da Pata a partir da chegada pela estrada de Barra de São Miguel- PB. Ao centro da fotografia, no alto do monte vemos a famosa "Pedra da Pata", que nomeia o lugar. Todavia, este povoado tem uma característica própria que é a sua divisão entre dois municípios: Barra de São Miguel, pelo lado sul da "Pedra da Pata" e, Cabaceiras, pela parte norte da referida formação rochosa.
Há exatos cento e quinze anos, quando a Comunidade ainda não era dividida pelas águas da represa do Açude Epitácio Pessoa (o Açude de Boqueirão) e a divisão dos municípios de Barra de São Miguel e Cabaceiras ainda não existia, o viajante, "touriste", "Faustino Cavalcanti" fez a seguinte descrição do ambiente que o mesmo enxergou:
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Fotografia 2 - Página 162 do Almanak Literario e Estatístico do RS - 1902 |
A seguir, apresentamos a Capa do Almanak Literario e Estatístico do Rio Grande do Sul do ano de 1902 e transcrevemos na íntegra as impressões narradas pelo autor na página 162:
A PATA
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Capa do Almanak de 1902 |
Foi uma ribeira das mais ricas deste município, como diz o povo em sua gíria, quando quer designar esses núcleos pastoris e agrícolas das margens dos rios; agora, porem, devido as grandes secas, achasse em completa decadência.
Ao longo das escarpadas e pedregosas margens do rio, na extensão de uns três quilômetros, restam ainda, como para atestarem a opulência passada, velhos casarões, curraes e cercados de pau a pique, luctando contra a acção devastadora do tempo.
Não podemos precisar a data da fundação de suas primeiras fazendas, que deve ter sido posterior à de Cabaceiras.
Da origem ao seu nome, como veremos em seguida, uma causa toda natural.
A poucos passos do barranco do lado esquerdo do rio, no centro da ribeira, eleva-se uma enorme rocha de granito em forma de pyramide, a qual pode ser vista do oriente, a 6 kilometros de distancia.
No cimo da rocha ligeiramente
inclinada ao norte está colocada uma pedra de uns 10 metros de comprimento,
recostada noutras menores, e que tem a mais exacta configuração de uma pata.
Emquanto o viajante pára contemplando
aquella admirável creação da natureza, ella, do cimo elevadíssimo da rocha de
granito, qual esfinge egypcia, parece cheia de vida alçar o collo e o olhar
embeber demoradamente na curva longínqua do rio.
E faço ponto nestas apreciações
de simples touriste, para não tomar maior espaço neste precioso Almanak.
F. Cavalcanti (Cabaceiras –
Parahyba)
Ressalto mais uma vez que esta bela descrição foi publicada em 1902. Provavelmente o autor, Faustino Cavalcanti, descreveu o caminho que percorreu até a Comunidade da Pata pelo atual lado de Cabaceiras, todavia, o cenário que o mesmo enxergaria seria uno, afinal, a comunidade ainda não era dividida geograficamente (pelo açude de Boqueirão), nem politicamente (Pata de "Loló", do lado de Cabaceiras, e "Pata de Lula", pelo lado de Barra de São Miguel.
Para concluir, vejamos o detalhe da "Pedra da Pata", que focamos pela chegada de Barra de São Miguel:
Fotografia 3 - Pedra da Pata, vista pelo lado de Barra de São Miguel |
A separação política desta região aconteceu em 1961, com a emancipação do Município de Barra de São Miguel, todavia, os moradores e famílias que residem na região mantêm intenso contato, com a realização das mais diversas atividades econômicas, culturais e políticas, além das uniões familiares em ambos os lados do rio Paraíba.
Em breve, postaremos mais relatos de viagens e impressões narradas por Faustino Cavalcanti na primeira década do século XX.
João Paulo França, 03 de abril de 2017 (Atualizado em 04 de abril de 2017).
Fonte:
Almanak Litterario e Estatistico do Rio Grande do Sul - Organizado por Alfredo Ferreira Rodrigues. Disponível no site da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
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