Viva São João! Puxe o Fole Sr. Manoel Benjamim! (Série o que vivi, ouvi e senti na História)

Neste dia de São João nosso site trás na Série "o que vivi, ouvi e senti na História", a memória de um dos personagens culturais mais significativos da cidade de Barra de São Miguel - PB: o Sr. Manoel Benjamim dos Santos, ou simplesmente, Manoel Benjamim dos 8 baixos!
Vejamos uma imagem deste ícone de nossa cultura:

Imagem 1 - Sr. Manoel Benjamim com seu fole de 8 baixos
Nascido em 04 de agosto de 1919 e falecido em 03 de abril de 1996, neste ano completamos 20 anos sem a alegria contagiante dos 8 baixos do Sr. Manoel Benjamim nos diversos festejos de Barra de São Miguel. 

Segundo a nossa entrevistada, a Sra. Maria do Socorro Santos Silva (Socorro Benjamim), filha do Sr. Manoel, o mesmo foi um dos filhos do casal Sr. Benjamim e Sra. Maria Benjamim, tendo por irmãos: José Benjamim (Que nomeia a quadra central de esportes), Inácia, Severina, Miguel, Soledade, Clotilde e Mariquinha.
Esta imagem 1 foi feita em Barra de São Miguel e o Sr. Manoel Benjamim teria 28 anos de idade. O mesmo foi casado com a Sra. Maria Nilde Ferreira (1933 - 2009) e desta união teve nove filhos, dos quais criaram-se cinco, que são: Socorro, Dolores, Lourdinha, Zefinha e Gabriel. 

A seguir, passamos a palavra para a Sra. Socorro Benjamim, nascida em 1959, para a mesma nos falar um pouco mais das contribuições do nosso personagem histórico.

Como o Sr. Manoel Benjamim começou a tocar?
Bem, eu nem nascida era. Ele começou tocar com 8 anos de idade. Era tão pequenininho que colocavam ele em cima de um tamborete para poder tocar. Contam, que quando foi um dia ele tava em uma festa e foi almoçar. E de tão pequeno que era, era comendo e colocando os ossos no bolso, com o uniforme branco. Quando terminou o almoço e voltou a tocar, era aquele "melador" de graxa, por que ele dizia que ia guardar os ossos no bolso para chupar depois, de tão pequeno que era.

Que instrumento ele tocava? Como aprendeu?
Ele tocava fole de 8 baixos. Acho que ele aprendeu com o pai. Meu avô Benjamim tocava e ai ele foi vendo e aprendendo.

Onde ele morou?
Atrás da Serra, perto de Nenzinha. Acho que quando ele casou é que veio morar aqui na rua. Eu mesmo nasci em uma casa na Rua São Miguel, em uma casa que era de Otacílio, ali perto de Clemilton hoje. Dali a gente veio pra cá, pra rua nova, minha infância foi nessa rua.

Ele tinha outra profissão, além de tocador?
Sim, ele era pedreiro. Ele era muito inteligente. Boa parte destas casas foi ele que fez. Também fazia coisa de madeira. Tenho uma cristaleira que foi ele que fez. Também fazia os "milagres" para o Bom Jesus. As pessoas pedia pra ele fazer, tipo assim, um pé, um braço para as pessoas colocar debaixo do santo. Ele fazia de madeira, de cera para o povo pagar as promessas... Uma vez ele colocou até uma orelha que estava faltando em um santo da Igreja.

Ele fazia as festas, ou era o povo que chamava para tocar?
Era o povo que chamava...olhe, carnaval, São João, fim de ano, forró em sítio, tudo, tudo era ele que tocava. Fazia também uns forrós aqui em casa, onde ele gostava de ficar tocando, aqui na rua mesmo.

Quem acompanhava ele?
Manoel de Tetê. Miguel de Maria Joana, o finado "Parafuso" tocava na zabumba, Inácio de Terto ajudava no fole também. Também Genilsom conhecido por "boia apulso". Biu "Otário" tocava também. E eu era quem cantava. No início era Zefinha minha irmã, depois que ela casou eu passei a cantar e só parei quando ele morreu. Tempo de São João assim era muito bom.

Como era que vocês se preparavam?
Eu tinha um rádio de pilha. Escutava as músicas e escrevia em um caderno e ensinava a ele. Eu escutava no "rádio de móvel", com 4 botãozinho, dois de um lado e dois do outro e dizia, venha cá papai pra nós treinar e aí cantava pra ele. Mas era só uma vez e ele já pegava a música. Tudo nós tocava, hino nacional, raça negra, música antiga, Luiz Gonzaga, hino de São Miguel, mastruz com leite...tudo ele tocava.

Onde vocês tocavam?
Ave-Maria, em todo canto nós tocava. Tocou muito na Inveja, na casa de Zé Paca, na casa de Zé Lino, de Luís Augusto. Era forró do tempo do candeeiro. Nem microfone tinha, eu no outro dia ficava só "o pito" de rouca, por causa da poeira... ele tocou no Andrade, no Bichinho, no Pará, no Mineiro, nas Pedras Altas, Cachoeira dos Borges, Inveja, acho que não teve um desses proprietários de terras que ele não tivesse tocado... em Lagoa Seca, Lula Cabral levou a gente...em Recife, que Raimundo de Zé Lino levou pra tocar lá em San Martim. Tocava muito aqui na rua também, tocou no mercado, as vezes em quadrilhas no Clube do Bangu, também ali em Manoel Estambinho...tocava na casa de Zé Costa, nos bares, Abraão e outros chamavam. E também aqui em casa, aqui era o canto certo dele fazer as alegrias dele. Antônio de Lino tirava uma cotazinha, mas era muito pouco. O povo vinha pra cá. Eu lembro que ele gostava de romper ano em casa. Também tocou, eu me lembro, 22 comícios de Pedro Pinto ali de lado de Zé Pinto, na Rua Thomaz de Aquino.

Imagem 2 - Sra. Nilde e o Sr. Manoel Benjamim
E Dona Nilde, a esposa, como participava de tudo isso?
Mamãe só acompanhava ele. Teve um caso engraçado em um sítio, ali onde era de Agnelo Cabujé. Ela era noiva dele e o dono da festa disse que era pra ela não dar corte em ninguém na festa, mas papai não queria que ela dançasse, aí ela teve a ideia de colocar "leite de aveloz" nos olhos para não poder dançar (risos). Neste dia, nem festa teve. Depois, aqui na rua ele gostava muito quando ela ia. Quando ela chegava na festa, ele tocava aquela música que diz: "Quando a saudade invade o coração da gente e pega a veia onde corria um grande amor"... eu num posso ouvir isso que me lembro, ela ficava muito feliz e ele sempre tocava esta música quando ela chegava na festa. Eles eram muito unidos

E a veia artística passou pra mais alguém? 
Só eu que cantava com ele e Gabriel, o filho que aprendeu, só não se interessou em tocar muito. 

Ele tocou nos clubes da cidade?
Sim, no Clube do Bangu, no Clube Diversional Cariri, lá eu lembro que teve um concurso de sanfoneiro e ele tirou em primeiro lugar. Eu lembro como se fosse hoje, por causa da alegria que tive. Papai morreu tocando, até o último ano de vida ele tocou, só parou quando teve um problema aqui na rua, aí foi a última vez que ele tocou aqui e no outro ano morreu.

Imagem 3 - Sra. Socorro conosco nesta entrevista no dia 24 de junho de 2016
Alguma música especial não podia faltar?
Asa Branca de Luiz Gonzaga não podia faltar, ele gostava muito.






Nosso agradecimento a Sra. Socorro Benjamim, e fica aqui o nosso registro da passagem deste artista popular de Barra de São Miguel - PB. Tem imagens ou áudios? Será um prazer compartilhar neste espaço.

Barra de São Miguel, 24 de junho de 2016



Fonte:

Acervo e entrevista com a Sra. Maria do Socorro Santos Silva (Socorro Benjamim), em 24 de junho de 2016.
Cemitério São Miguel de Barra de São Miguel - PB